CULTURA.
"Cultura é equilíbrio intelectual, reflexão crítica, senso de discernimento, aborrecimento frente a qualquer simplificação, a qualquer maniqueísmo, a qualquer parcialidade". N. Bobbio, carta a G.Einaudi em julho de 1968, quando do “Rissorgimento”, movimento político acirrado e conflituoso à época na Itália.
A perseguição do esclarecimento, de um mínimo a que se pode chegar para uma visão de vida compatível com a satisfação de ter respostas apartadas da dúvida plena, indicativas de um caminho seguro, não pode restar na claudicação, nem ficar tangenciando superficialidades, necessita ser crítica como a “paidea”, sistema grego educacional que instigava o aluno a reformar ideias assentadas, sem o que o mundo do pensamento seria estático, e também, estar junto da maiêutica socrática que perguntava à exaustão, até findar sorvida a lógica que mostra rumos.
Como dizia o notável Bobbio, produzindo mais de duzentas obras, que dirigiu até os noventa anos o pensamento critico-político-institucional italiano, não se faz cultura simplificando, de forma maniqueísta, submergindo em parcialidades, pessoalidades restritas. Ficamos fragmentados pela invasão das trevas.
Não é possível desenhar sem instrumento, pintar sem tinta e pincel, esculpir sem cinzel ou goiva, ouvir som sendo surdo, sendo mudo falar, ou o cego ver. Não há forma, objeto, sem instrumento, não há protagonização sem processo, procedimento, não existe efeito sem causa, não há literatura sem assentamento em seu veículo nobre, a língua.