O Amor e a Maquiagem

Trinnn....trinnn...trin....

___Alô

___Oi...

___Oi querida, tudo bem?

___Precisamos conversar…

___Que foi aconteceu alguma coisa???

___Conversamos pessoalmente...

___Claro, passo ai as oito, vamos jantar aproveitamos e conversamos.

___Tudo bem...

(...) Ele chegou dez para as oito e ficou esperando ela terminar de se arrumar até quinze para as nove...

No carro durante o trajeto ao restaurante, ela continuou monossilábica...

O silêncio era tamanho que por pouco não dava para ouvir os pensamentos.

Alias dava para ouvir sim os pensamentos:

Ele: Caramba ela fica muito gostosa quando usa esses vestidinhos.

Ela: Incrível como é um desatento insensível, até agora não percebeu que perdi 300 gramas .

Cenário:

Um restaurante relativamente simples, garçons de calças pretas e camisas brancas, alguns casais nas mesas, ele e ela em outra.

Ele vestido de um modo casual com uma calça jeans, camisa de algodão e um sapato semi-novo.

Ao sai de casa, penteou os cabelos passou um desodorante e para impressionar usou um perfume.

Ela vestida como a protagonista de alguma novela, usa um vestido que tem no máximo dois palmos de pano.

Ao sair do banho parou na frente do espelho conferiu se as pernas e axilas estavam devidamente depiladas, aproveitou e se untou com óleo de fragrâncias exóticas.

O maquilar-se e vestir-se, para esse simples jantar, em que se demorariam talvez alguns minutos, ocupou-lhe, no entanto, horas.

Quando lhe bastava usar uma sombra para pálpebras, decidiu usar três.

Cuidou dos lábios com pomada, lápis de contorno, batom madrepérola e pó.

As pestanas postiças já não são coladas em fita, mas sim pestana por pestana. (“Dá um efeito natural”) e no seu penteado entrelaçou um postiço que, como é evidente à semelhança do seu próprio cabelo, tem que estar sempre lavado e ondulado.

Só para a maquilagem de olhos e sobrancelhas ela tem a disposição em seu arsenal. O que ela calça, nem vou perder tempo em explicar o fenômeno psico que a faz experimentar todos seus 30 pares de calçados, escolher um e passar o jantar inteiro olhando nos pés e pensando que precisa de um sapato novo é algo inexplicável.

(...)

Olhando um para o outro ele tentou mais uma vez um dialogo:

Ele: O que você tem, querida? Está tão quieta...

Ela: Nada

Ele: Diz logo...

Ela: Não sei se você vai compreender.

Ele: Compreender o quê?

Ela: Quero deixar você

Ele: Tens outro?

Ela: Sim

Ele: Tem certeza de que o ama?

Ela: Não posso viver sem ele...

Ele: (abraçando-a) Que maravilhoso!

Ela: Como?

Ele: Eu disse maravilhoso, fica com ele.

Ela: Você fica alegre?

Ele: Por que não haveria de ficar feliz?

Ela: Não me amas mais?

Ele: Eu te amo e quero que sejas feliz. Esperava outra coisa?

E Com lagrimas paradoxas ela acaba com sua obra prima...

A maquiagem.

Andre Mota
Enviado por Andre Mota em 25/04/2013
Reeditado em 10/05/2019
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