Visita inesperada
Eu chegava exausta do trabalho. Jogava meus sapatos no canto, comia alguma coisa enlatada e me dava por satisfeita. Vez por outra essa rotina se remexia com um telefonema ou algum jantar a trabalho. Foi então que minha mãe me surpreendeu com uma visita numa terça-feira cinzenta. Servi um chá verde, que por sorte encontrei entre meus enlatados. Conversamos durante horas e rimos como se tivéssemos apenas 20 anos de novo. A minha mãe tinha a mania de cruzar as mãos sobre os joelhos, deixando-a ainda mais elegante. O vento cantava lá fora, o que me fez sorrir disfarçadamente, porque amava aquele barulho. A última vez que estive com minha mãe, foi um dia de sol ardente, já fazia muito tempo, pois os últimos meses foram engolidos pelo intenso frio daquele lugar. Mamãe mexeu nas madeixas - pretas com leves fios brancos – que estavam por cima do casaco e então, da forma mais educada se despediu. Ao fechar a porta, estremeci. Não por causa do frio –embora esse fosse um bom motivo- mas porque eu ansiava ter a mesma alegria que minha mãe, se tivesse a sorte de alcançar a mesma idade que ela. Foi quando o vento cantou novamente.