Mais etanol na gasolina: benefício de poucos em detrimento de muitos
Por Herick Limoni*
No próximo dia 1º de maio o trabalhador brasileiro terá uma “grata” surpresa, e engana-se aquele que imaginou que seria mais um pífio aumento do salário mínimo que, outrora, costumava ter seu novo valor vigorando a partir da referida data. Antes fosse. A surpresa, desta vez, fica por conta do aumento do percentual de etanol contido em cada litro de gasolina, que passará dos atuais 20 para 25 por cento. Ou seja, a partir do dia 1º de maio, cada litro de “gasolina” conterá somente ¾ da substância que lhe empresta o nome.
Tal medida visa atender, exclusivamente, os usineiros, haja vista que, conforme se depreende das palavras do próprio ministro da fazenda, Guido Mantega, a expectativa é de aumento dos investimentos no setor. Além do aumento do etanol na gasolina, o governo, como forma de incentivo, resolveu conceder isenção de impostos – PIS e COFINS – aos produtores de etanol, impostos esses que representam, hoje, R$ 0,12 por litro. Ou seja, os usineiros serão beneficiados duas vezes, enquanto que o trabalhador...
Essa postura de isenção e redução de impostos se tornou uma marca registrada do governo do Partido dos Trabalhadores (PT). Já há algum tempo o governo concedeu redução de IPI para as montadoras de automóveis, e o que era para ser provisório vem se perpetuando ao longo do tempo. Também já concedeu redução de impostos para fabricantes de eletrodomésticos – a chamada linha branca -, para fabricantes de maquinários agrícolas, dentre outros. Mas, ao contrário dessas outras reduções, dessa vez o trabalhador – aquele mesmo que tem o seu dia comemorado em 1º de maio – não terá, absolutamente, nenhuma vantagem. Pelo contrário. Com um transporte público de péssima qualidade e com os incentivos concedidos pelo governo, os trabalhadores estão, cada vez mais, conseguindo adquirir seu veículo próprio, ainda que seja usado. E essa redução irá prejudicá-lo duas vezes: primeiro, porque ao contrário do que se poderia imaginar, não haverá redução no preço do litro da gasolina, conforme já anunciado pelo governo e, segundo, porque o trabalhador é quem terá de arcar com a perda de autonomia do seu veículo e com as prováveis idas à oficina, haja vista que os motores, até onde eu sei, não são fabricados e, portanto, não estão preparados para tais mudanças. Outra vez é o trabalhador quem pagará a conta.
Me ocorre que, com um percentual tão significativo de etanol, deveríamos sugerir a mudança de nome da gasolina para gasonol ou gasolinol, o que seria muito mais apropriado. E acabo de me lembrar de mais uma redução de impostos: a desoneração dos produtos da cesta básica. O que era pra ser benéfico para o cidadão, amplamente alardeado pelo governo, inclusive com pronunciamento em rede nacional, ainda não chegou às gôndolas e prateleiras dos estabelecimentos comerciais. É a política do para o pobre, nada, e para o rico, tudo.
* Bacharel e Mestre em Administração de Empresas