Onde andará a honestidade?

Onde andará a honestidade?

Onde andará a tal da honestidade? Decerto, não está nas entranhas do poder e, certamente, em negociatas feitas as escuras nos porões da vida. A honestidade ficou restrita pra quem ter vergonha e essa vergonha, também, está sumindo dos dicionários. Talvez, a honestidade esteja em um antigo jargão: é pobre, mas é honesto! A vergonha e a honestidade comem pouco e se alimentam de esperança, enquanto, a desonra e a falta de caráter esbanjam fartura.

Muitos arvoram e batem no peito dizendo ser honesto, mas, quando a vida exige tal retidão, o viés de conduta logo aflora. Todos apontam dedos, jogam pedras, mas a verdade é que a honestidade está virando palavra obsoleta. Eu amo minha esposa, mas será que sou honesto com ela? E se eu tiver oportunidade de amar a mulher do vizinho, o que farei? A dúvida já põe em xeque seu conceito de honestidade.

Eu pago meus impostos e minhas contas, muitos bradam. Mas, na hora da rescisão, muitos querem de volta aquilo que pagou e, fraudulentamente, procuram meios escusos de ter de volta aquilo que arrotou (eu pago meu imposto) aos quatro cantos. O famoso “jeitinho” já nasceu desonesto, mas, sempre que precisamos e temos oportunidades, usamos tal recurso. Furamos filas, sentamos em lugares de idosos e deficientes, apontamos dedo para as minorias etc. enfim, a desonestidade anda, constantemente, em nossa companhia.

Somos desonestos até com nós mesmos, quando mentimos nossa idade, falsificamos nosso currículo e contamos uma vantagem que nos dá o atestado de que estamos riscando dos dicionários essa palavra. Exigimos muito e fazemos de menos. Queremos que políticos sejam honestos, mas, na primeira oportunidade nos vendemos em troca de benefícios individuais.

Falsificamos verdades, deturpamos histórias, escondemos fatos, perpetuamos boatos, tudo que vai de encontro aos conceitos de honestidade. Sem querer acreditar, mas sendo forçado, vejo que o nosso Rui Barbosa, há muito tempo, estava com a razão quando disse: “de tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”. Será que, sempre, seremos forçados a ser desonestos?

Mário Paternostro