Café-pra-Dois

Seja breve pra pegar a onda. Basta cansar os olhos, fazê-los pedir arrego por detrás dos muros espelhados, tentar pular o muro pra forçar cara-a-cara o olho no olho. Fica mais sedutor se for no espelho com pouca luz, quando a gente já não sabe o que se passa, quando o silêncio dá o tom da companhia, corpo e alma, um café-pra-dois de um homem só.

"Mas e se a gente se queimar?" Devo ouvir essa pergunta mentalmente, como um loop nonsense, porém o sentido dela me faz virar de noite na cama, sofá, mesa, ou em quaisquer coisa que deixe a minha cara marcada de uma forma eternamente indelével até o banho da manhã seguinte. Então, e se a gente se queimar? Se souber uma solução ideal, deixe-me saber. Por hora, tenho sido o mais cuidadoso possível pra apreciar sem correr esse risco, arisco até, de temer o ciclo ideal. "Mas é só um café!", pode até ser, mas é nas analogias mais sinceras e simplórias que a vida faz sua rima.

Há quem diga que essa rima grita por simetria. Toda métrica, toda forma (de morrer por nada. por um boçal na esquina lendo um jornal... Ah, tragédia hollywoodiana do cotidiano...), todo nonsense que a gente busca sentido quando se é sentido em algum lugar do receptor, se chegar a ele (ah tragédia radiofônica... Mas pera, a TV matou o rádio!). "Mas nem todo nonsense faz sentido!" ouço isso constantemente, pura verdade universal.

Talvez caiba a nós, desbravarmos e dar o pingo nesse i. Mas, e aí? que fim leva esse café-pra-dois? Não sei ao certo. Mas deixo o meu abraço, como um catalisador nessa jornada, por que talvez, só talvez, eu não esteja tateando sozinho, e toda companhia é bem vinda até o fim desse café.

"- Aceita mais alguma coisa, senhor?

- Uma razão, da mais simples e plausível.

- Ok, senhor.

- Ah, e um café, por favor..."