FINADOS - Mini crônica
FINADOS
Em meu tempo de menino, que na realidade já vai bem longe, a partir segunda metade da década de 40 do século passado, apesar da finalidade de sua triste comemoração, a época de finados era ansiosamente por mim aguardada. É que, curiosamente, no portão do Cemitério da Saudade, o único de Santo André, formava-se uma verdadeira feira onde, além das barracas de flores, havia a venda de caldo de cana ou garapa, do milho verde, dos doces, creio que da doceria do Nali, as deliciosas bombas, cocadas, pudim de pão; dos pastéis da japonesa Da. Maria, das frutas da época, como o abacaxi e a melancia vendidos em fatias, da pipoca, do amendoim e do algodão-doce. Uma verdadeira festa, somente superada pelas quermesses do Largo da Matriz, realizadas em junho.
Nessa ocasião, Santo André inteira se encontrava.
Quando vou àquela necrópole, com o fiz recentemente, vejo ainda a antiga paineira fronteiriça ao portão, majestosa, carregada de painas, soltando o algodão, deixando os arredores de uma brancura tal, como se fosse Natal, com a neve caindo.
Aí me recordei daqueles bons tempos, jamais imaginando que ali, um dia viria a ser a última morada de meus pais e irmãos. Menino que era. Minha não será, pois, já fiz ver a todos meus herdeiros ou sucessores, que desejo ser cremado.