O Bobo
Vou contar aqui a historia de um bobo...
Tudo começou numa roda de amigos em um bar da cidade, no centro uma garrafa de uísque e algumas latas de energéticos, em volta eu e alguns colegas, em pauta os assuntos mais diversos possíveis. Quem estava de fora poderia nos descrever, como se tivéssemos encenando uma dança da chuva para um mundo seco.
Eu só penso nela! (...) Como o grito de um professor cala uma sala barulhenta, essa frase silenciou as gargalhadas dos aborígenes secadores de garrafas que ali estavam.
Ficamos um olhando para o outro e tentando descobrir quem foi que estragou nossa dança...
Finalmente o perseguido se entrega... Cara eu não sei o que é, mas só penso nela... Amanheço e adormeço pensando.
O clima tácito permaneceu na mesa, um levantou com a desculpa que ia ao banheiro para não continuar na conversa, o outro foi logo preparando mais uma dose de Uísque como se dissesse não contem comigo não estou aqui, o outro já foi logo ao ponto, cara não sou bom em assuntos sentimentais pouco sei dessa área... Quando vi me faltaram desculpas.
E como sempre, as pessoas tendem a colocar palavras onde faltam ideias, e foi isso que fiz.
___ Amigo, já sei do que você sofre.
___ Sabe? Já passou por isso?
___ Não, nunca passei, mas como os médicos eu não preciso ficar doente para clinicar.
___ Hum... Então o que é? Paixão, falou o que tinha se levantado para ir ao banheiro, quando retornava a mesa.
Como os médicos que olham nos olhos dos pacientes e lhe descrevem sua patologia, falei.
___ Bom o nome popular dessa doença pode ser paixão, mas o cientifico é Bobeira.
___ Está sofrendo de bobeira. Você esta bobo!
Antes que ele fala-se algo, mostrei que minha teoria não era fruto de um conhecimento empírico, citei claro minhas fontes de pesquisa científicas que embasa meu diagnostico.
___ Cara, Clarisse Lispector, já escreveu sobre o bobo.
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando.”.
E igual gasolina no fogo, essas palavras incendiaram novamente as gargalhadas na mesa...
É isso mesmo, cara quando estamos apaixonados ficamos bobos demais, fazemos cada idiotice... kkkk. Disse um da mesa.
Então para encerrar o assunto propus um brinde.
___ Viva a paixão, pois sem ela a bobeira ficaria sem financiamento e acabaria. Kkkkk(...)
Alguns anos se passaram desse episódio...
(...)
Certa vez, no recreio da faculdade, comendo um Bis derretido, pensei isso, pela primeira vez: e se eu ficasse bobo?
Já vi meus amigos trocando papéis de cartas com corações desenhado no rodapé da folha, vi uns trocando jogo de futebol por passeios em Shopping de mãos dadas, Já vi alguns passar o dia todo num almoço chato com os parentes dela e achar isso interessante, vi tudo isso como se não pudesse ter... Ver... Ser.
E se eu ficasse bobo. Será que escutaria musica sertaneja, em um show acho que não tem bobeira nenhuma que faria ir, Será que algum dia criaria um perfil no Facebook só pra entrar no perfil dela, Será que ficaria o dia todo de olho na porra do celular esperando uma mensagem, bobo uma vez bobo para sempre? Será?...
E num monologo absorto, digeri minhas perguntas enquanto terminava de dobrar o papel do Bis...
Sempre tive a lucidez febril sobre o que é gostar de alguém, em minha mente ecoava as palavras de Nietzsche dizendo que "Sempre há um pouco de loucura no amor, porém sempre há um pouco de razão na loucura".
Usar a paixão como desculpa para “bobice” era como usar a bebida como desculpa para as idiotices... Tenho um pensamento cético sobre o sentimentalismo teatral que usa o romance como uma peça insípida, onde caras babacas encenam suas mentiras para comer mulher... Vampiros de alma que usam artifícios para obter vantagens inescrupulosas, explorando a fragilidade feminina contra esses pseudoromanticos.
Será que bobo ainda irei de ser... Será que um dia minha gelada razão irá ser apunhalada pelas costas por essa famigerada embriagues de paixão.
Será que terminarei como César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?”.
Acho que isso é uma das tristezas que o bobo não prevê... Pois se bobice fosse previsível ninguém babaria.
Joguei o papel dobrado de Bis na cesta de lixo e fui pra sala...
Mais alguns anos se passaram... E a bobeira a mim foi apresentada.
(...)
De longe a vi com uma calça dourada, colam preto...
Essas embalagens escondiam um metro e cinquenta e quatro centímetros de um corpo lindo, como goiabada e queijo combinam o doce e o salgado numa mistura deliciosa ao paladar seu corpo é uma mistura de formas voluptuosas e delicadas. Seus cabelos loiros olhos brilhantes e sorriso lido, era uma amostra grátis dizendo que depois disso só o paraíso...
Ao entrar no carro, fiquei com medo, de que minha cara pudesse entregar minha completa admiração, medo de sair alguma coisa do tipo, oi seu bobo!
Os minutos foram passando e meu quadro patológico iria se agravando, em vários momentos seu sorriso me transportava para algum lugar que definitivamente não era o que estávamos e como numa briga comigo mesmo eu pensava: Será que não está estampado na minha cara que sou misterioso, profundo, louco, genial, gente fina e hilário??
Algumas horas depois estava me sentindo como mendigo ao contrario, andando pelas ruas implorando para alguém aceitar suas esmolas...
Será que isso é estar bobo? Passar algumas horas com uma pessoa e gostar dela um milhão de vez...
Acho que fui infectado com o vírus da bobice, meus problemas começaram a ter vírgulas, a musica do local por mais brega que parecia ser começou a fazer sentido... prolapso no coração um vazio na boca do estomago, sorriso de bobo na cara... To fodasticamente encrencado,pensei.
Será que isso tem cura?... Naquele instante queria tomar um remédio para não sentir nem ar entrando pelo nariz, só assim seu cheiro gostoso deixaria de me atormentar... Queria pensar em outra coisa a não ser arrancar sua calça dourada e fazer o melhor sexo da sua vida. Calmo,carinhoso,devagar, com beijos na boca e olho no olho...
Mais não teve como dei um beijo na bobeira...
Agora estou aqui...
Sinto meu celebro romper... E toda vez que penso nisso, sinto medo. Porque, cara, eu sempre achei que era dono de mim, Que minha mente, essa filha da puta, mandasse em mim.
Mas quando me lembro daquele beijo sinto, de verdade, um frio na barriga como se milhares de formigas andassem em volta do meu umbigo. É como se o leme desse barco chamado de minha mente estivesse à deriva num mar de bobeira (aqui se ler paixão) sem capitão...
(...)
Imagino que o capitão desse barco provavelmente, esteja em algum lugar, visitando o perfil dela no facebook, escutando Fred e Gustavo.