Caçadores de papelão

Andando nas ruas sempre vejo essas miseráveis figuras, que buscam frenéticos ou desinteressadamente, uns pedaços de papelão.São, certamente, desprovidos de beleza, porém mantêm no rosto uma ternura tímida; expressam ou escondem a imensurável amargura que carregam no coração.

Talvez eles não saibam, mas fazem parte do cenário.Talvez eles não acreditam, podem ser os protagonistas.Talvez você ignore, mas um, ao menos um deles pode ser melhor que todos nós.

Um ser.Um ser que mediante ao ambiente e circunstâncias, viu-se obrigado a caminhar atrás das medíocres embalagens que todos desprezam, e quase que inacreditavelmente são necessárias toneladas pra não se passar fome.

Mas um homem não é só o que faz, mas o que busca fazer.E todos podem ver a roupa em trapos no corpo, mas pode haver seda adornando a alma.

Tragicamente, a busca não é por papelão.Superficialmente é isso, mas nossos colegas procuram em cada reciclável pedaço um fragmento do seu próprio ser, que quer decifrados ou não, estão fadados a serem trocados todos por meros centavos.

Bem isso, procuram o valor de suas vidas.

E os ambientalistas e sociólogos pesquisam microscopicamente e, concluem que a mesma matéria que estrutura os papelões, compõe a vida.

Escritor Gilmar Santos
Enviado por Escritor Gilmar Santos em 22/04/2013
Código do texto: T4254601
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