O BEM CONTRA O MAL

Para Marx, a história da humanidade é a história da luta de classes. Acho a idéia cientificamente atraente, e mesmo convincente. No fundo, em pouco se pode discordar. Penso hoje que a história da humanidade é, acima de outras coisas, a história da luta do bem contra o mal – maniqueísmos à parte, pois vejo Bem e Mal como forças da natureza. Forças com as quais teremos sempre que conviver, estando ambas dentro de cada homem e mulher, integrantes estes do mundo natural. O mal está representado pelo egoísmo cego e pelo imediatismo inadvertido, típicos do estado de barbárie (eu diria até mesmo típicos do comportamento de uma criança nova, recém saída do estado animal, quando o trabalho dos pais é acompanhá-la bem de perto a fim de humanizá-la – no melhor sentido da palavra humano, obviamente – com carinho, diálogo contínuo e bons exemplos). O homem (a humanidade) luta há milênios contra seu eu animal, este que recebe vários nomes, como Diabo, por exemplo. E é fácil praticar o mal. Não é preciso fazer muito esforço. Basta, por exemplo, omitir-se. Como é fácil a omissão diante da maldade. Como é fácil deixar o mal acontecer por si só – e ele é uma força avassaladora e automotora, sendo ele também inerente ao ser. Com o auxílio da omissão (de quem diz-se ou pretende ser bom) o mal ganha força. Fique claro que o mal não é um ente, uma pessoa, alguém com cara, carimbo ou assinatura, mas sim uma força natural, das coisas naturais que estão em tudo. Que compõem tudo. É muito fácil praticar o mal, até mesmo porque isso normalmente é conveniente, e todos nós o fazemos, em maior ou menor grau. Enquanto o bem, por sua vez, requer treino, cuidado, atenção, e, sobretudo, algum grau de sacrifício. Fazer o bem requer olhar para os lados. Olhar pra cima e pra baixo. Olhar pra frente e pra trás. O bem requer, em suma, sabedoria e responsabilidade em vários níveis, do individual ao planetário.

Há coisas que ainda são crianças: democracia dos estados nacionais, direitos igualitários, luta contra preconceitos de todo tipo (por exemplo, imagine que a ciência de ponta do começo do século XX defendia a eugenia, e havia inclusive leis defendendo-a). A noção de humanidade é muito recente na história humana. A própria humanidade em si, se comparada com a idade de coisas mais velhas e consolidadas – como a vida animal – é uma criança. Acredito nesta invenção magnífica que é a humanidade. Acredito no potencial benéfico dessa espantosa criação (ou evolução cultural aleatória) para o próprio homem. Mas não podemos achar que a humanidade é “o máximo”. Precisamos identificar o mal dentro de cada um de nós e tentarmos facilitar o triunfo do bem nessa luta sem fim. Se o triunfo do bem é uma utopia, desistir dessa idéia seria o suicídio da humanidade, antes que esta possa tornar-se adulta. (L.F., Mendes – RJ, 22/04/2013)

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