Meia-noite

Meia-noite. Um arrepio subia-lhe pelas costas enquanto caminhava pela rua.

Meia noite. Ao longe era possível ouvir o sino da igreja dando suas badaladas. Sombras se esgueiravam pelos cantos.

Meia-noite. É sempre tão assustador andar sem companhia por uma rua deserta.

A silhueta da moça era observada enquanto caminhava. Seriam os ratos e gatos aquelas sombras misteriosas que se escondiam quando ela passava? A garota olhava para trás a cada mínimo barulho, mas nada estava lá além de pequenos ratos correndo de um lado a outro da rua. A noite fria de começo de inverno formava uma névoa fina pelo chão de asfalto e a pouca iluminação podia mostrar a fumaça que saia de sua respiração.

Em uma noite particularmente escura e quieta como aquela qualquer som, qualquer vento, qualquer gota gelada que cai em sua nuca é capaz de assustar profundamente, e a pobre garota não duvidava disto. Entretanto, mesmo com aquele cenário de conto de terror, é possível ignorar coisas que assustam, principalmente se já está chegando ao seu destino, e era exatamente isso que ela tentava fazer.

Olhou para trás mais uma vez, mas não soube distinguir o que vira. Um gelo subia por seu estômago, quase esmagando-o, aquela sensação nauseante e a tontura insuportável a fizeram parar por um instante. Que susto! Pôs a mão no peito, respirou fundo e voltou a andar, mais rapidamente dessa vez, e sem coragem para olhar para trás.

O que era aquilo? Provavelmente uma sombra distorcida pela péssima iluminação da rua. Será? Ela teria que olhar para se sentir mais calma. Respirou fundo mais uma vez e com certeza que chegaria em casa gargalhando, se virou.

Não, ela não estava sozinha. Ao se virar deu de cara com a tal sombra, mas diferente da última vez, a figura a observava em pé a pelo menos quatro passos de distância. O grito veio para a garganta, mas o susto foi tão grande que não pôde fazer mais do que soltar um soluço desesperado. As mãos na frente da boca não estavam mais geladas, pelo contrário, ela sentia calor. Quase tropeçou olhando a figura misteriosa, mas virou-se e correu.

Estranho, sua casa não era tão longe, nem sua rua era tão comprida. Mas continuava correndo. E a sombra ainda estava perto, sem som e sem respiração. Foi quando olhou para trás mais uma vez que caiu da cama e bateu a cabeça na quina do criado-mudo.

Alguns acidentes podem matar.