Não sei se eu tenho fé. Minha fé jamais foi testada, espero que jamais seja. Mas talvez eu possa dizer que tenha um potencial de fé, uma sensação, uma centelha. As pessoas que já partiram não necessitam de fé. Elas já vivem na verdade, seja ela qual for. Fé é uma experiência que necessariamente se abriga e ocorre no humano. É preciso sentir dor, alegria, medos e esperanças para ter fé. É preciso estar nas ilusões do mundo, imerso nas cotidianas contradições do ser humano para saber se a fé habita ou não em nós. Não dá para condenar alguém por não ter fé. Não é um sentimento que escolhemos.

Tampouco acredito que fé seja uma questão de pedir e esperar que o pedido se realize ou entregar os problemas a Deus. Para mim fé caminha com resiliência, com o não desistir diante das adversidades, que podem ser de todos os tipos, sem desespero, sem perder a serenidade da alma. Fé é continuar, apesar de tudo, com os sentimentos do momento, mas entregues a uma força maior. Fé não é entregar a Deus os problemas, é entregar-se a ele com todos os seus problemas.

Existe fé quando uma mãe perde um filho e consola quem deveria consolá-la. Pedir a cura é equívoco de quem ainda não compreende. E nós na nossa infância confundimos desejo com o necessário. O bom pai não existe para suprir desejos do filho, mas para suprir necessidades. Às vezes ambos são coincidentes, mas nem sempre. Fé é ser capaz de atravessar o deserto da dor e sentir a água viva que brota de Deus. Ou é atravessar o vale florido e calmo e saber que mais à frente a paisagem muda. É fazer tudo isso sem ter medo e sem perder a confiança.

A fé não está nas orações repetidas, mas naquelas sentidas. É uma manifestação do espírito no corpo que o abriga.

Não se fixe nos milagres. Os milagres de Cristo são como livros infantis que servem para mostrar um início de um caminho, muito mais profundo e significativo, que existe nas entrelinhas de toda vida. Deus mora nas sutilezas, em um novo olhar para tudo que à primeira vista parece suficientemente explícito.

"Buscai e encontrarás"

Marcelo FAS
Enviado por Marcelo FAS em 22/04/2013
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