A falsa democracia

A falsa democracia

Depois de muita luta, muitos poetas calados, desespero em porões, finalmente, vencemos a Ditadura; conseguimos nos livrar desse passado plúmbeo . Hoje, com a democracia firmada, podemos fazer de tudo, podemos cantar, gritar e até xingar; será? Realmente vencemos, mas se analisarmos bem, trocamos o mutismo pela surdez.

Com a repressão não podíamos pensar, quiçá, falar. Hoje, a cuca pensa e a boca pede, contudo, ninguém nos ouve e aquela velha canção, hoje, não seria: “afaste de mim este cálice”; sua letra seria modificada para: ouça-nos, por favor. Nessa dita democracia, a constituição nos garante o direito de sermos cidadãos, mas os novos DITADORES nos mostram que os “porões” ainda não fecharam e que a tortura contra a dignidade, existe. Não adianta pintarmos a cara, pois iremos parecer palhaços (com todo respeito à classe); caras-pintadas brincando de revolucionários, gritando para um regime que não escuta. Hoje, não precisamos mais sequestrar embaixadores, pois iremos trocar pelo quê? Comida, moradia, educação, isso nos é ofertado, mas como migalhas que caem sob a mesa, então, vamos nos “enforcar como tantos outros heróis fizeram”, para que, pelos menos, nos vejam, pois nos ouvir é impossível. A liberdade dada nos aprisiona e a democracia vai nos algemando com suas ordens e regras. Estamos, cada vez mais, obedecendo a ditadura da democracia, votando em quem nos oferecem, pois a escolha é limitada; obedecendo ao voto obrigatório; pois ainda não temos o direito de faltar as urnas.

Assistimos a ditadura da mídia; os monopólios etc. Sartre nos condenou a liberdade e nós nos aprisionamos em uma democracia com grades e cadeados. Resumindo: estamos, cada vez mais, algemados. Karl Marx dizia que a abolição das classes e o desaparecimento do Estado conduziria para a democracia total, a democracia social; a noção de competição pelo poder estaria, então, eliminada. Democracia é um regime político que se funda na soberania popular, na liberdade eleitoral, na divisão de poderes e no controle da autoridade, porém, o que se vê é um regime que espanca o seu cidadão com seus impostos onerados e com a chibata da subserviência à politicagem.

Derrotamos a Ditadura, mas a vida ainda está dura, o pão está duro de ganhar e nessa dureza o que nos resta é o consolo de que o “dito” esteja duro e façamos o que de melhor sabemos, amor. Aproveitemos enquanto os nossos novos “GENERAIS” não ouçam os gemidos de prazer e queiram impor leis e, assim, censurem e cobrem impostos sobre tal sentimento.

Se a Ditadura nos deixou mudos e a democracia se faz de surda, que regime então nos resta?

Mário Paternostro