- VIOLÊNCIA -
Todo dia somos desafiados para novas aventuras, novas tarefas e achamos que o que vier resolveremos "na boa".
A Escola estava preparando um seminário, onde cada professor colocaria, em brevíssimas palavras dada a escassez de tempo, um tema que seria proposto.
Quando recebi a incumbência de falar sobre a VIOLÊNCIA, em poucos minutos, para uma platéia de crianças e adolescentes, logo pensei... Barbada !!!!...
Foi só começar a pensar sobre o assunto que me dei conta, a coisa não era tão simples e nem tão fácil assim.
- O que colocar no papel ?
Poderia falar sobre a violência no trânsito... a violência contra as crianças... a violência doméstica... violência contra os animais... a violência das drogas e dos traficantes...a violência contra minorias... contra homossexuais...prostitutas, negros, brancos, indígenas, violentados em seus direitos simplesmente por serem diferentes do padrão social constituído, tanto na sua cultura como nas suas convicções ou necessidades. Quanto mais aprofundava o tema, mais complexo ficava...
Por dias fiquei pensando em como atingir esse público alvo diante de tanta abrangência.O tempo se exaurindo, a angústia aumentando e nada de um pensamento coerente se concretizar no papel.
Às vésperas do seminário, ainda não tinha nada concreto para dizer... No final da tarde, como sempre faço para relaxar, peguei meu chimarrão e fui sentar-me no "cantinho das flores", - assim chamo meu pequeno jardim - pensando...pensando... até que ouvi vozes exaltadas vindas da casa colada à minha.
Tantas vezes já tinha ouvido mas desta vez comecei a prestar atenção. Minha vizinha, furiosa dizia: - "sua inútil... burra... incompetente... será que nem uma continha dessas podes resolver?? O que será de ti amanhã? Nada... não serás nada!". E logo a seguir ela continuou, mudando totalmente o tom: - "vem, meu queridinho...vem com a mamãe... prometo nunca mais gritar perto de ti..." Pelos sons, detectei o soluço sentido da menina, de uns dez anos mais ou menos e o ronronar do cãozinho da mulher, feliz por receber um carinho e tanta consideração.
Minha cabeça simplesmente deu um BUMMMMM!!!! Aí está! Já sei o que falar. E pensando naquela criança o tema veio como uma luz - A VIOLÊNCIA DAS PALAVRAS.
Acredito que de todas as formas de violência a palavra mal proferida é a pior. Ela penetra no âmago... ela dói... corrói... destrói sonhos...modifica caráter... magoa... atinge a alma.
Há que se ter cuidado para não dizer palavras duras ou ofensivas que penetram fundo e jamais serão esquecidas, muitas vezes, determinando traços de personalidade surpreendentes.
Ao terminar minha exposição... silêncio... dos alunos, dos professores e até dos dirigentes. Olhei para minha platéia e vi rostinhos com olhos arregalados, como que dizendo: - " nunca havia pensado nisso antes" e alguns de cabeça baixa, talvez refletindo alguma experiência nesse sentido.
Assim como eu... eles ficaram pensando... pensando... pensando na VIOLÊNCIA DA PALAVRA.
LEZA