Conto da Princesa Balzaquiana
O mundo completa mais de meio século da liberdade feminina. Explicar qual liberdade é' essa é' um desafio quase impossível, mas tentarei arriscar uma opinião. Nos contos de fada, principalmente os mais tradicionais, a mulher é um ser puro e indefeso, à espera do seu príncipe encantado que virá lhe salvar para que, ambos, possam viver felizes para sempre. Em situações mais dramáticas, havia a bruxa malvada, a maçã enfeitiçada, ou o sono profundo do qual apenas o tal príncipe poderia salvar a pobre senhorita. Todavia, note-se sempre o seguinte detalhe: Que príncipe era esse? Alguém dentre vários outros príncipes, previamente selecionado e escolhido pela mulher? Não. Nunca vimos quais critérios foram usados para se definir quem seria o felizardo. À mulher, nunca foi dado o poder de decisão, muito menos ela o quis. Para que? O que importava era ser "salva" e viver sua vida para servir ao seu homem e à custa dele. Em outras palavras: o primeiro que chegasse seria o "felizardo", e o "felizes para sempre" poderia ser traduzido em "escrava para sempre". As aspas são propositais, porque agora voltamos ao tempo presente. Imagine-se, caro leitor, que você se considere o príncipe encantado que vai salvar uma nobre donzela, mas a ela não foi dado o poder de "pesquisa de mercado". O príncipe pode tanto ser você, como Ricardo, Paulo, Sergio ou Severino. O que fazer então? É aqui que vem meu desafio moderno: Transforme-se no homem que precisa ser salvo por uma princesa encantada. Só assim você será o escolhido, no meio de tantas opções que as mulheres hoje têm, em um piscar de olhos. Alguém poderia argumentar que eu simplesmente reverti a ordem dos fatos, e o que se questionou antes pode ser repetido agora, com os papéis trocados. É verdade. Devemos, então, encontrar um meio termo. Nem tanto uma mulher passiva e submissa para aceitar o primeiro que aparecer em um cavalo branco, como nem tanto um homem que se ache o gostosão que espera que as mulheres venham se rastejando. Das mulheres, espera-se a elegância feminina, o charme sedutor, o sorriso avassalador, o sexo arrebatador (entre 4 paredes, por favor). Dos homens, espera-se o cavalheirismo, a educação, o bom humor e o respeito à figura quase santa da mulher (fora das 4 paredes, por favor). Não há mais espaço para a mulher submissa e passiva, que espera o primeiro senhor X que aparecer, como não há espaço para o homem egocentrista que acha que tem todas as mulheres aos seus pés. O mundo atual espera e exige que as mulheres vivam sua independência e liberdade, mas que nunca percam o charme; que procurem, e se deixem encontrar pelo real príncipe encantado. O homem que souber se colocar nesse caminho do destino descobrirá que ele não salvou ninguém, pelo contrario. A mulher que souber usar da sua liberdade e independência e lutar pelo seu verdadeiro amor descobrirá o que é ter alguém que a coloque no topo do Universo. Mesmo que isso custe 22 anos. Mesmo que Júlia d`Àiglemont só encontre seu Carlos Vandenesse depois dos 40 anos.