O tal do Rubem
O tal do Rubem
Sou menino. Desses que nasceram descalço e morrerão um dia. Que sempre gostou de brincadeiras e ouviu canções de dormir. Minha mãe cantava e, graças a Deus, ainda canta. Mas eu tive e tenho um diferencial. Sou um novo. Mas todos são.
Resolvo sair. Vou ao quarto, troco a blusa e coloco o boné. Os antigos chamavam de chapéu. Mas lembra, eu sou novo. Gosto do inovador. Mas todos gostam. Pois bem. Calço as sandálias, canto uma música, dessas que inspiram amantes, e toco em frente. Vou passear. Volto, esqueci o livro. É do Rubem Braga, escritor do gênero maior. Passo em frente. Tranco o portão e vou andar. A música na cabeça " sou caipira pirapora " .
Abro o livro. Sento em um banquinho. Levanto, recolho o pó e assopro. Começo a ler. Não entendo. Leio de novo. E de novo. E de novo. Entendo. Reflito e choro. Tento recolher as lágrimas. Sou homem, robusto! Homem não chora. Compreendo que choro e sorriso não cabe ao sexo. Levanto e corro. Chego em casa, abro o caderno e preparo o lápis. Tenho uma epifania. Fico consternado por não saber as palavras. Abro Rubem Braga. Tenho uma metonímia. Começo a escrever. E paro aqui diante para elogiar um homem. Não, ídolo não. Ídolo só tenho Deus. Prefiro o termo personificação da genealidade. Um escritor. Um assunto. O tal do Rubem.