Leitura apressada de um fim de noite
“Sim, eu sou assim” (Fiódor Dostoiévski, Notas do Subsolo). Caramba, amei essa frase que li, numa leitura apressada, aliás, muito apressada de um fim de noite ou, se preferirmos, de um começo de dia, à zero e alguns minutos de 27 de outubro de 2011. E, logo que a li, não aguentei ficar sem escrever alguma coisa, sem pôr a lume, no entender de muitos, talvez, um amontoado de baboseiras. Que seja! Não estou nem aí.
Não é que eu não mude de ideia, eu mudo. É que, embora saiba que isto incomoda a muitos, eu sou muito eu. Gosto de ser assim. Fazer o quê? Azar de quem se incomodar! Querendo ou não, a gente vive a incomodar a quem se importa mais do que devia com a vida alheia. Por isso, toquemos a vida. Não vim ao mundo para agradar a todos, ainda que, idiota, tivesse tamanha pretensão.
Confesso que, às vezes, gosto mesmo de incomodar, conquanto, por paradoxal que pareça, me esforce bastante para ser agradável a quem convive comigo nos mais diversos ambientes, segmentos e situações: em casa, no trabalho, no meio religioso, na Maçonaria, na Ordem dos Advogados do Brasil, na Herbalife e onde mais que esteja. Sim, eu me esforço muito para, sem falsidade, ser agradável quanto possível em tudo e a todos.
Não sei, todavia, disfarçar a ira, o inconformismo, quando me aborreço. Não sei deixar de responder à altura, quando necessário. Detesto pessoas falsas, hipócritas, mentirosas, por mais que de hipócrita e mentiroso, voluntária ou involuntariamente, todo o ser humano tenha um pouco. É. A Bíblia diz que não há justo sobre a terra, nem um sequer. A imperfeição é ínsita à natureza desse animalzinho pretensioso chamado homem, o Homo sapiens.
Não sou debochado, nem arrogante, nem intolerante, ainda que pareça às vezes ser tudo isso e mais alguma coisa do gênero. Nunca fui e tenho convicção disso (claro, ao dizê-lo, simplesmente por dizê-lo, já estou incomodando). Apenas amo, na expressão mais profunda desse verbo, a liberdade, até porque eu, com muita alegria, sou maçom. A Maçonaria cultiva a virtude e combate preconceitos, erros e vícios, porque preza e a defende com todo o rigor a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
Encerro, para não cansar a quem quer que seja, conquanto talvez até tenha cansado. Ousei dizer de mim mesmo, embora o tenha feito propositada, mas apressadamente. É que não me acudiu outra ideia no momento. Demais disso, segui as pegadas de Dostoiévski (“do que um homem honesto pode falar com mais prazer” é “de si mesmo”). Mas, ninguém se engane, eu sei o que Dostoiévski quis dizer com isso. Bom, penso que sei. O estar ou não enganado é outra história. “Sim, eu sou assim.”