Cadeira vazia
Papai foi o homem mais sereno que eu conheci. Costumava passar a maior parte do tempo em sua cadeira de madeira importada lendo alguma coisa. Não consigo lembrar-me da sua figura humana senão desta forma. A última vez que eu o vi, não foi diferente. Sentado confortavelmente em sua cadeira, ele tentava completar mais uma cruzadinha, me pedindo ajuda entre um gole de vinho e outro. Depois da nossa refeição em família, sentei ao seu lado. Lembro-me que ele citou sobre o quanto ele estava decepcionado com a política do país, mas nem prestei muita atenção, pois estava vendo estampado em seus olhos, e mais ainda, escrito em sua testa, que eu não o teria por muito tempo. Meu pai estava morrendo. No seu jeito discreto, estava partindo para longe desse mundo. Então, entre alguma de suas frases o fitei, olhei profundamente para aqueles olhos apertadinhos, o abracei e desejei nunca mais tê-lo soltado.