Eu sou o Amor
EU SOU O AMOR
Airton Gondim Feitosa
Uma brisa soprou do mar atravessando a sala, um leve aroma de alfazema inundou o ambiente e, lembranças inesperadas e vagas assaltaram-me, quando a cadeira de balouço começou a embalar, como se alguém estivesse nela sentado. O meu espírito resolveu obscuramente as ocorrências naquela tarde e voltou com uma descoberta imprevista ou: A outra vida começa logo que essa terrena se encerra, sentado na cadeira nada confortável, tendo sobre a escrivaninha, um net book, dezenas de papeis, despesas e dados não meus, elaborando declarações de I. Renda mediante irrisória quantia mas necessária. É que nunca tive tanto dinheiro. Quantas vezes pensei em largar tudo, sair por aí sem destino e no anonimato de mais uma vida que se libertaria desse sistema escravocrata e ter a certeza de que nenhuma consciência de perigo poderia medrar através de meus grandes olhos vivazes... Nada me faria crer jamais que um dia também, iria fazer companhia aos vermes... O meu espírito era incapaz de seguir aquele caminho depois de percorrer uma pequena distancia, os ponteiros do relógio viraram automaticamente como se tudo voltasse ao ponto de partida. Mesmo porque eu não me preocupo mais com o que dizem ou façam. Eles me fizeram de lanterna da escuridão e dessa forma eu percorro os tuneis do tempo, as vielas da imaginação, sempre ao encontro da verdade e não tenho culpa se causo neles furor ou admiração, prefiro a paz que traduza o anonimato que a inveja que acompanha o estrelato. Medito, sento calmamente na calçada, fecho os olhos e vejo por trás das pálpebras uma penumbra cinzenta que se alonga indefinidamente em um pais do qual nunca havia visto sequer em um postal, um lugar muito estranho, onde as pessoas andavam por ruas desertas e a solidão soava como a melodia do tempo. Agora, o mundo girava em sentido anti horário e, em uma praia não distante algumas gaivotas famintas disputavam um caranguejo morto, assim, imaginei a política humana de uma forma racional. Voltei ao passado, assisti à cena presente e até arrisquei o futuro... Sinto muito, o que eu poderia fazer para que entendessem que um pão pode alimentar milhões de almas famintas ao passo que um grande trigal se não tratado com amor, poderá gerar pragas jamais imaginadas.... É que não precisamos ter para ser, afinal, temos tudo o que necessitamos para viver, é que não notamos e buscamos o que não existe ao descompasso da razão nos tornamos presas dos caçadores de dotes, afinal eles usam o nome daquele que não conhecem. Eles falam de igualdade, perdão e do amor sem jamais terem passado por situações que ficasse provado pelo menos um desses milagres a nós ensinados. Então, resta afirmar que os conflitos sociais dogmáticos e ideológicos não traduzem absolutamente nada que dignifique a vida humana, muito pelo contrario, eles simbolizam as adversidades tão comuns, essências turvas, tintas e amargas entranhadas nas denominações e potestades que protagonizam os capítulos mais dramáticos de nossa existência, o desamor.
Tão pouco tempo passamos aqui e muitas das vezes nos questionamos se já vivemos mais que a maioria das pessoas tendo como resposta o silencio, então, eles me perguntam: quem é você? E eu lhes respondo, eu sou o amor...