"Recordações de uma menina-Capítulo 4"

SÉRIE RECORDAÇÕES DE UMA MENINA

CAPÍTULO IV

Década de 30

Bairro de Ipanema

Ainda em Ipanema, quero comentar diversos aspectos da nossa passagem por lá. Morávamos em um apartamento na Rua Alberto de Campos. Era em um edifício de dois andares, cor cinza tendo como revestimento pó de pedra. Naquela época, raros eram os edifícios muito altos, contava-se a dedo, embora já existissem muitos, mas espalhados. Era um prédio composto de quatro apartamentos, morávamos no número 2. Ele dava as costas pra Lagoa Rodrigo de Freitas, sempre tão bonita, sempre tão convidativa a longos passeios pela sua orla. Perpendicular à nossa rua ficava a Rua Joana Angélica que em seu curso nos levaria à Igreja N.S. da Paz, na praça N.S. da Paz, que seguindo adiante chegaríamos à praia de Ipanema, num trecho privilegiado de mar belíssimo até hoje, mesmo sem a tradicional vegetação rasteira que existia outrora.

Paralela à rua Joana Angélica, na direção da Lagoa até a praia, corre a Rua Maria Quitéria, também perpendicular à nossa rua. A descrição desses fatos serve para se ter uma noção do local para poder me acompanhar. Nessa Rua Maria Quitéria morava uma amiga nossa de longa data: Olga Tavares, casada com João Tavares, tendo Cláudio e Guilherme como filhos. A Olga, foi mais tarde, minha madrinha de crisma. Moravam numa casa lindíssima, muito agradável, de dois pavimentos. Minha madrinha era uma pessoa muito caprichosa. Dava gosto ver sua casa, sempre tão bem cuidada, muito bem decorada e florida. Como ela mesma, brindava-se com seu estilo muito apurado de se vestir, sempre elegante e faceira.

A casa cheirava bem, não só pelos cuidados de limpeza, como pelos perfumes que saiam da cozinha, perfumes dos quitutes dela. Adorava tortas e bolos de receitas estrangeiras. Eram de diferentes sabores, dando o espetáculo daqueles avanços para saboreá-las. A copa, ficava perto da cozinha. Era decorada com móveis laqueados, lindos. As refeições ligeiras eram servidas ali.

Lanchei muito naquele ambiente, apreciei sabores extraordinários naquele recinto, era próprio para crianças, pelo alvoroço que nós sempre fazíamos não seria outro lugar mais indicado. Lembro- me também das suas incursões sala-cozinha para verificar se tudo estava correndo bem, se o que tinha determinado estava sendo cumprido. Isso em períodos de aniversários ou reuniões extras que sempre existiam, pois a felicidade dela era "receber", como costumava falar. Era irmã de Tio Seth, já pincelado rapidamente antes. Era um entrelaçado de parentesco, que acho que isso fazia a união completa do grupo.

Tia Zinha era irmã de Tio Nhonhô e de tia Aïda, ainda não comentados. Tio Nhonhô era casado com Tia Licínia, que depois foram morar no Alto da Tijuca, lugar extremamente agradável, muito arborizado e florido, nem parecia cidade. Tia Aïda era casada com Tio Xandinho, tendo como filhos Paulo Roberto e Edson, este companheirão das bagunças infantis.

Como já devem ter notado os meus tios e tias eram postiços, pois os verdadeiros, como os demais familiares, eram todos do Ceará. As outras amigas do grupo não eram parentas, mas consideradas como tal, eram todas "A frente da amizade", como diziam, uma por todas, todas por uma, feito os Tres Mosqueteiros...

Tia Zinha e Tio Seth tiveram 3 filhos: Yolanda, Lucy e Flávio. Yolanda é casada com Mauricio Houaiss, professor de matemática e irmão do filólogo Antonio Houaiss, membro da Academia Brasileira de Letras e autor do maior dicionário da Língua Portuguesa dos últimos tempos, falecido recentemente.

Myriam Peres

segue...

Myriam Peres
Enviado por Myriam Peres em 13/08/2005
Código do texto: T42475