Ecos do Apartheid

Segundo o professor Moniz Bandeira, um dos grandes especialistas brasileiros em relações internacionais, vinte anos após o envolvimento de Cuba no processo de libertação de Angola, Henry Kissinger, em suas Memórias, qualificou como “excepcional a política exterior da Revolução Cubana. Não conheço outro país na época moderna onde o idealismo tenha sido um componente marcante em sua política exterior. Não conheço nenhum outro país, além de Cuba, que por um tempo relativamente demorado tenha demonstrado tanta generosidade e valentia na sua política externa”.

Lembra-nos ainda Moniz Bandeira que o fim do apartheid na África do Sul “ocorreu pouco depois que as tropas sul-africanas foram derrotadas pelas de Cuba, estabelecidas em Angola, na batalha de Cuito Canavale, entre dezembro de 1987 e março de 1988”.

Moniz Bandeira é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, professor titular de História de Política Exterior do Brasil, na Universidade de Brasília, e detentor do título de Doutor Honoris Causa pelas Faculdades Integradas Brasil-UniBrasil de Curitiba e pela Universidade Federal da Bahia. Esteve exilado no Uruguai, na época da ditadura militar, voltou ao Brasil e reside agora na Alemanha.

Sugere o professor Moniz Bandeira que a “amizade tradicional” Brasil-Estados Unidos é um “estereótipo ideológico, sendo manipulada com o objetivo de influir” em termos de política exterior. E cita que “no Século XIX o Brasil suspendeu por três vezes (1827, 1847 e 1869) as relações diplomáticas com Washington, não aceitando a sua hegemonia”. Afirma ainda que “as necessidades de industrialização, impulsionadas pelo presidente Getúlio Vargas (entre 1930-1945 e 1951-1954), agravaram as controvérsias com os EEUU, o que contribuiu para o golpe militar de 1964”. E que apesar do “alinhamento automático” do governo do marechal Castelo Branco com Washington, qualificado de “interlúdio breve e aberrante” pelo embaixador norte-americano John Crimmins, “interesses econômicos brasileiros determinaram o reaparecimento de controvérsias”. O que “culminou com a assinatura do acordo nuclear Brasil-Alemanha (1976) e a ruptura do acordo militar com os EEUU durante o governo do general Ernesto Geisel, em 1977”.

Isso pode não interessar a muitos brasileiros, quando estivermos mais ocupados com o funk, o hip hop, as UPPs no Morro do Alemão, ou não, a Copa do Mundo, as Olimpíadas, Jornada Mundial da Juventude, Carnaval, UPAs sem médicos ou remédios, o preço do tomate, assaltos violentos a bancos em cidades pequenas, Mensalão, Rock in Rio, lipoaspirações que matam, o reaparecimento da inflação, problemas estruturais no Engenhão, etc. Ou a surpreendente transformação, em pastora de uma igreja evangélica, da apenada Suzane Von Richthofen, que ajudou seu namorado e o irmão dele a matarem seus pais a puladas. O que é mais do que natural. Não que alguém mate seus pais a pauladas. Mas todas essas peculiaridades na vida da gente, em que toma vulto cada vez maior a disseminação de seitas pseudo religiosas e o seu confronto com outras mais antigas, ou estabelecidas há mais tempo, na disputa pelo promissor mercado religioso.

Mas como tudo passa, e a poeira sempre abaixa, é possível que quando a poeira abaixar, então certos detalhes da história brasileira, e alguns do exterior, possam nos interessar.

Rio, 07/04/2013

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 18/04/2013
Reeditado em 18/04/2013
Código do texto: T4246678
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