Seria Maria um acidente de percurso?

Ela não elogiava ninguém!

Essa era uma das constatações que, de cara, se tinha de Maria.

Maria era amargurada, introspectiva, caladona, quieta, intrigada da vida. Sim, esta era a característica mais marcante que se deixava externizar.

Não casou, não procriou, não viajou.

Não escreveu um livro, não beijou na boca, não se aventurou.

Pensando bem, ela nem sequer se arriscou!

Enfiou a cara nos estudos. Conquistou um alto posto de liderança na vida secular. No entanto, na vida pessoal Maria era um desastre humano. Seria Maria um acidente de percurso?.

Senhora de suas verdades, não admitia ser contrariada. Ai de quem discordasse das suas "convicções".

Não era de bajular nem o mais sagrado, quem dirá homens, seres humanos? Estimulada por esta ideologia de vida, lutou de forma árdua para conquistar um posto de liderança onde não necessitasse ser submissa a ninguém.

Conseguiu!

Maria chegou ao "pódio" da vida.

Os que a observavam de forma não habitual, invejavam suas conquistas. Já os que observavam os detalhes da vida daquela mulher, logo detectavam que ela refugiou-se nos livros para garantir-lhes um futuro promissor, mas que no fundo, Maria era um saquitel furado, uma embalagem inflada, cheia de ar, porém, sem conteudo.

No secreto da sua identidade, ela escondia um segredo a sete chaves: o vazio proveniente da solidão.

A desconfiança era um gigante que morava com ela. Maria não confiava em ninguém. Tudo era motivo de suspeita, de desconfianças, de cautelas.

Maria perdeu a noção de amigos, amores, empatia, solidariedade. Pensando e analisando-a bem: ela nunca desfrutou de nada disto!

Hoje, aposentada, idade avançada, cansada de guerra, desfruta de uma vida regalada, conta bancária recheada, nenhum amigo, nenhum filho para acalentá-la (aliás, ela nunca experimentou o prazer da maternidade), doente, distante dos livros (eles não a interessam mais), busca na internet um endereço de um Asilo para Idosos estilo classe A em zona nobre para terminar seus dias de vida.

Refletindo bem: O que foi que essa mulher fez da sua vida?

O conhecimento adquirido se esgotará com a demência que mais cedo ou mais tarde chegará.

O dinheiro adquirido ao longo dos anos não a acompanharão no dia do seu enterro. Caixão não tem gavetas!

Amigos não irão lamentar sua morte, afinal ela foi uma solitária toda a vida por opção, escolha, estilo.

Seus bens materiais (móveis e imóveis) como não tem parentes, serão incorporados ao patrimônio do estado ou da União, dependendo do caso.

Alguém lamentará a morte de Maria? Sim: Os gestores do abrigo classe A que deixarão de faturar com a perda de uma hóspede.

Que vida!

Contos e Encantos
Enviado por Contos e Encantos em 17/04/2013
Código do texto: T4246045
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