Leãozinho

 

“Neste mundo nada pode ser dado como certo, à exceção da morte e dos impostos.” - Benjamin Franklin

 

Olha o leão aí, gente! Abram alas para esse bicho papão que vem todo início de ano e que coloca mais cristão pra sambar que o carnaval, bota mais pecador na penitência que a quaresma!

Quisera fosse o leãozinho do Caetano, brilhando ao sol com sua juba, entrando no mar. Quisera se afogasse por lá e não voltasse mais. Eita! Coisa estranha para um protetor de animais dizer! Mas eu estou falando do leão do Imposto de Renda, não do rei das selvas.

Esse outro bichano covarde está longe de merecer as benesses da proteção animal, repetida e cruelmente tirando nacos de nossas pobres economias sabe-se lá para quê. Fossem realmente usados pelo bem comum: saúde, educação, segurança; e essas mordidas nem doíam tanto. Mas, para encher cuecas, meias e contas nas Cayman, qualquer centavo é demais. E a gente que vive na luta, matando um leão por dia... Opa! De novo?! Vão tomar o meu crachá da proteção!

Melhor procurar a origem desta expressão infeliz: "matar um leão por dia". Revirei o Google do avesso e nada. Pensei no hábito bárbaro dos safáris africanos, mas penso que a emoção da caça esportiva não transmita a angústia necessária. A não ser para os bichos caçados.

Talvez os cristãos no Coliseu romano tenham mais semelhança: lançados às feras famintas, era matar ou morrer.

Novos tempos, matar cristãos nos circos já não é espetáculo há milênios. A luta agora é para abolir o uso dos outros animais (inclusive leões) também nos picadeiros mundo afora. Bonito hoje é o Cirque du Soleil com seus malabaristas mágicos. Cristãos ou não. Nenhum leão, tigre, elefante... Sem golfinhos ou baleias... Nada de sofrimento animal! Viva!

Aliás, temos muito a aprender com os artistas do Soleil e seus contorcionismos. Cada vez mais precisamos dessa elasticidade na nossa luta diária. E, já que é errado matar leões, cuidemos dos nossos com carinho para que eles nos vejam como amigos e não almoço.

Já o leão do imposto de renda... Este não tem jeito da gente domar. Já vem adestrado por feras muito mais vorazes do que aquelas do Coliseu, ávidas por refestelar-se de nossas mirradas finanças.

Ave, César!



Texto publicado na edição de 12/04/2013 do jornal Alô Brasília.