Construindo pedaços

Ela não consegue decidir qual comida pegar no prato já feito. Olha para aquelas formas como se quisesse dar forma à si mesma.

Se pudesse escolher logo, seguir adiante, mas aquilo tudo estava tornando-se uma charada sem soluções.

Mastiga lentamente, enquanto observa o movimento de tudo, sem perder, numa piscada, qualquer atitude que lhe seja útil: o casal argumentando com a filha, que cisma em persuadi-los para ir na tão esperada festa; as estudantes discutem qual personagem é mais charmoso: Christian Grey ou Edward Cullen, em meio a suspiros de amor ; dois amigos de infância conversam sobre “como o jogo influenciou as posições na tabela do campeonato” ; uma empresária dá conselhos a seu novo estagiário ; o casal mais velho apenas mastiga, os olhares perdidos anos atrás ; a garçonete tenta ser mais ágil possível, entregando todos pedidos à tempo ; o churrasqueiro está cansado de saber tantos cortes e formas diferentes mas não sabe quando parar em sua vida ; a caixa sonha com as férias perfeitas, deitada na beira de uma praia paradisíaca, bebendo os drinks mais caros e recebendo massagens. Mas sempre na hora do mais é interrompida por mais um cliente a pagar, anulando seus contrastes ; o gordinho, com o prato cheio de batata frita, mastiga cada uma prometendo amanhã começar a tão esperada dieta.

A garçonete deixa um prato ( que acabou de recolher de uma mesa ) cair, fazendo todos os olhares fixarem-se nela, com as bochechas vermelhas, enquanto recolhe os cacos, chamando atenção da escritora, ao fazer uma analogia entre cada peça quebrada.

Ela, por agora, tentará montar as peças de seu mais novo quebra-cabeças: sua folha de papel em branco.

Mariana Rufato
Enviado por Mariana Rufato em 17/04/2013
Reeditado em 17/04/2013
Código do texto: T4245717
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