GASPARINI'S DIAMONDS
No magistério é muito comum sermos colegas daqueles que foram nossos mestres ou de outros a quem instruímos no passado. Para ilustrar esse pensamento, considere que fui aluna de Dona Arlêne Campos e de Maria das Graças Vassalo Rocha (Nininha), tendo trabalhado com ambas durante muitos anos no Colégio Cristo Rei. Da mesma forma, aprendi um pouco de Biologia com Evaldo Nunes Pereira e de Geografia com Ana Maria Paraíso Dalvi e com sua irmã, Elizabete Paraíso Bizzotto de Mendonça, e mais tarde nos tornamos colegas de trabalho no Centro de Estudos Supletivos de Linhares e no Polivalente de Linhares I, respectivamente.
Em situação análoga, eu também ensinei inglês para muita gente boa de Linhares e entre eles cito alguns com que trabalho até hoje: Alexandre Araújo, Josiane Gatti Lorencini Belotti, Jonisete Marta Bissoli e Adriana Nunes Rigão.
Como Diretora do Poli I, perdi a conta de quantos alunos queridos passaram por minha vida e fico muito feliz quando eu os encontro, ou sei que estão muito bem posicionados na vida. É verdade que eu morro de vergonha quando encontro aqueles que foram os mais comportados e constato que o tempo “escondeu-me” os seus nomes, mas também me alegro quando detecto que ficaram indeléveis os dos mais “encapetados”, divertidos e/ou perspicazes. Dentre esses últimos, enquadro o meu “muso” de hoje, um danadinho que conheço desde adolescente, detentor de extraordinário raciocínio, presença de espírito formidável e nenhuma papa na língua.
A personalidade marcante, a mente brilhante e o temperamento despojado, desde garotão, o levaram a cursar Ciências Biológicas na Ufes e o mestrado em Botânica não poderia ser em lugar mais sério: Viçosa, MG. De volta a Linhares, foi contratado como professor pela Unilinhares e ali recomeçava a nossa convivência, que se estendeu até à Faculdade onde hoje nós dois coordenamos cursos.
Em nossas reuniões, eu costumo me divertir muito, pois sobra nele o que falta em mim. Enquanto eu sou do tipo abestalhado que fica no “Ah, é?, Ah, é?” demorando duas horas para encontrar um respostão; diante de pontos “nevrálgicos”, ele não solta “pérolas” e sim “diamantes”, como os que relato e seguir.
Certa vez, durante uma discussão originada pela necessidade de se internalizar rapidamente uma determinação do MEC, ele saiu-se com essa: “Esse pessoal se considera um figura mitológica intangível ou o gostosão do Olimpo? Ora, quem absorve as coisas rapidamente é o intestino delgado, gente!”. Em outra, quando se comentava sobre gente exibida, ele soltou: “Quem quiser ser estrela que suba para o último céu, porque aqui somos todos planetas da via láctea, ainda!”.
Nos intervalos dos cafezinhos, entre um papo ameno e outro, colecionei as três frases responsáveis pelo sucesso dos bajuladores, que abominamos: 1º: “Quando eu crescer, quero ser igual a você, chefe!”, 2º: “Sua ideia é fenomenal, formidável e inigualável, meu patrão!”, 3º: ”Chefinho, estou indo, mas se precisar é só me chamar. Se você espirrar... Saúde desde já!”. Outra tarde, comentando sobre a evolução de sua vida amorosa, ele disse: “Antes eu era feio, depois eu comprei carro e fiquei lindo.” Até mesmo gripado e abatido, ele consegue ser divertido: “Estou preocupado: a humanidade está perdendo seus maiores gênios… Sócrates faleceu, Newton bateu as botas, Einstein morreu, e eu não estou passando muito bem hoje”.
Aprendo muito com ele e tenho utilizado uma de suas “tiradas” com os alunos que gostam de faltar ou de “assistir às aulas nos barzinhos”: “Quer três motivos para sentar o traseiro nessa cadeira e prestar muita atenção? Uma dependência dessa matéria custa R$600,00, você vai ter de estudar em dias de sábados e ainda vai demorar mais seis meses para se formar. Tá bom para você?”. Costuma ser milagrosa!
Quer saber quem é o autor de todos esses diamantes? Dou-lhe algumas pistas à moda dele: a primeira “letra” é Alcemar e a “última” é Júnior.