CD dos Passarinhos

A gente só toma jeito quando toma um susto.

Passei por aquela megastore do shopping e vi o CD dos passarinhos. Pedi pra escutar. Lindo. Porra, mais um CD? Já tenho tantos. Mas é tão lindo. Depois eu compro. Deixa eu ver logo a droga do note de não sei quantos terras. Tem também aquela TV de plasma de 50’ que está barata. E é só hoje. Amanhã os putos jogam o preço lá pra cima.

Acabei não comprando nada. Lembrei-me de ter combinado com o Marcos de ver no Estação o filme sobre a ditadura. Desses que eles não passam nunca. Se saísse do cartaz, provavelmente nunca mais veríamos. E o Marcos era um sujeito sério e ultrapontual. O maluco já deveria estar por lá, comprando balas na lojinha do hall de entrada.

Dirigi-me apressado pro estacionamento. E estressado, sempre, pelo preço cobrado. Uma imundície, uma canalhice. E a porra do Prefeito, vereadores, etc. não fazem nada. A população que se dane.

Ao chegar ao carro, conferi se a droga do ticket estava no bolso da camisa. Não olhei direito, mas deu pra ver, de costas pra mim, o bonezinho amarelo de um cara próximo ao carro. Depois iria conferir a ridícula bermuda azul estampada dele que se eu comprasse uma igual, ganharia um esporro da minha mulher.

Na direção, me virei pro lado face à sensação de um vulto que aparecia. Era ele. Bonezinho amarelo e uma Glock G28, calibre 380, naturalmente. Dessas que de vez em quando, ou quase sempre, aparecem nos jornais ou na TV. Desci o vidro do carona na esperança infantil de que fosse o segurança do estacionamento.

- Abre isso aí, parceiro, ouvi o comando. Vamu dar uma volta, o cano da pistola encostado na altura dos meus quadris depois de ele ter entrado.

- Tá cum as senhas aí, merrrmão?, perguntou.

- Não sei direito. Acho que deixei as anotações em casa.

- Tá brincando, cara?, sentia o cano da pistola querendo entrar por dentro de mim. Ou tá pensando que tô de brincadeira?

Logo depois que estacionamos em frente ao Itaú, uma patrulinha parou atrás da gente. Inacreditavelmente podia ser que tivesse nos seguido. O malandro amarelou e saltou fora, botando dez no veado. Os PMs saltaram e correram atrás dele.

Dei ré e saí batido. Não dava pra agradecer aos policiais. Voltei pro shopping. Fui comprar correndo o CD dos passarinhos. Tinha pensado, quando estava na megastore, em ouvir aquele CD tomando café da manhã no jardim da casinha que tenho lá em Maricá. O Marcos, meu amigo, não iria brigar comigo.

Maricá, 13/04/2013

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 17/04/2013
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