Gosto de mulher porque fui adestrado
 
 
 
Reproduzo, a seguir, trecho de matéria assinada por Cléo Francisco e que vi na internet*:
 
Para Richard Miskolci, professor do departamento de Sociologia da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), a sociedade exerce forte influência para que os indivíduos se definam como heterossexuais. "Todos têm essa possibilidade de se relacionar com o mesmo sexo, mas, no processo de socialização, as pessoas podem perdê-la. Desde crianças somos adestrados. Heterossexualidade não é algo natural, hoje sabemos que ela e compulsória", declara Miskolci.
 
 
Fiquei abismado ao descobrir que gosto de mulher porque fui adestrado. Quem diria?! Quer dizer que passei esta minha vida inteira atraído pelo sexo oposto por uma imposição social?  Que absurdo! 
 
Entretanto, refletindo sobre o tema, ao tratar de sexualidade (é disso que se trata a “opinião” do insigne professor) parece que há alguma confusão, certamente.
 
A mãe natureza – e “natural é o que dela decorre” – criou a maioria das espécies animais com a função reprodutiva, indispensável à sua perpetuação, com sistemas que pressupõem a conjugação entre machos e fêmeas.  O ser humano – ao menos na parcela animal que lhe é inerente – também faz parte desse conjunto de seres que “naturalmente” se sentem atraídos sexualmente pelo sexo oposto. 
 
Ocorre que a parcela “não animal” do ser humano – isso é irônico, até – traz em si a sexualidade como complemento de realização afetiva e, também, como atividade recreativa.
 
Se é “natural” que sintamos atração pelo sexo oposto, que isso se transmute e se confunda com a realização afetiva parece algo até que lógico.  Porém, no sentido inverso, sou perfeitamente capaz de entender que uma relação possa ser “homoafetiva” e ver nisso algo natural.  A transposição disso para o comportamento sexual é uma transição eventualmente inevitável, nesse caso.
 
Por outro lado – sem qualquer trocadilho malicioso – em termos de atividade sexual recreativa já não se pode falar do que seja natural ou não.  Os fetiches de cada um são diabretes traquinas que pululam nas almas em geral.  Mesmo fazendo parte inexorável de nossa imperfeição humana, creio que a mãe natureza já não tem nada a ver com isso, mas sim a psique de cada indivíduo.
 
Tenho comigo que qualquer atividade que não fira a ninguém, se der prazer a todos que dela participem, ao menos para estes é “natural” e, como se diz por aí, o que acontece entre quatro paredes é problema de cada um.

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http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2013/04/15/heterossexualidade-nao-e-natural-e-compulsoria-diz-sociologo.htm