NÃO SOBROU NENHUM PRA VOCÊ?

NÃO SOBROU NENHUM PRA VOCÊ?

Era mês de Setembro, do ano de 1963, e o calor começava a rondar a cidade, especialmente do meio dia até o começo da tarde.

A moradora da Av. Benedito Valadares estava sentada na varanda, desfrutando a brisa que passava de quando em quando. Os conhecidos cumprimentavam-na e alguns iam alem da saudação, com breves comentários.

Em dado momento quem apareceu foi Terezinha, amiga de muitos invernos e de longas prosas que, como eram usual, foi se adentrando, sentou-se ao lado da dona da casa e foi reclamando da temperatura.

- Que Calor, hen!

A dona da casa, D. Zélia, perguntou-lhe – Que novidade você me traz, de Belo Horizonte?

- O que mais me agradou foi um desfile de modas, de uma casa recentemente aberta ao publico, na rua da Bahia, de nome PRIMAVERA, e o melhor é que havia convites especiais e quem não os tinha, como eu, tinha de chiar em XX, cruzeiros.

- Você chiou?

- Claro que não. Não que me faltasse vontade, simplesmente porque não tinha com quê. Mas a Gilda, minha sobrinha, pagou e eu achei danado de bom.

Em principio eu recusei, não queria, me fiz de rogada. Dona Zélia interveio dizendo: - Me joga no fogo!

- Me fiz de desinteressada e antes que ela mudasse de idéia, tratei dos pormenores e lá fomos nós e valeu.

Gostei e gostei muito! Não só pela roupas, mas pela presença de gente bonita e bem vestida. Mulheres de Deputados, de Prefeitos, e ...

- Éh?

- É “gente importante”, assim como eu, disse e ficou calada esperando o efeito do comentário. Ah! e por fim, um coquetel...

- Você não ficou de pileque, pois não?

- Você acha que eu sou de dar vexame pra “estragar a festa” ?!

- E namorado, não sobrou nenhum pra você?

- Não é pra me gabar; mas não é que um velhota resolveu me cantar!

- E você topou?

- Olha, ia contar alguma coisa, mas olhou para a menina que estava ouvindo o palratório, deu uma risada e acrescentou:- Depois eu conto. Parou, e levantando-se cumprindo um velho ritual, pegou na mão da amiga e se foi, mas em breve ela voltaria para novos causos, porque anunciar novidades era seu forte.

D. Zélia disse para filha que permaneceu calada a seu lado.-Você ta vendo filha, precisamos voltar a B.Hte. , porque quanta coisa boa está perdendo. A filha adolescente de 11 anos, limitou-se a olhar a mãe e ficar em muda admiração, como se estivesse esperando por mais.

Ciro
Enviado por Ciro em 16/04/2013
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