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Crônica baseada em uma postagem no blog de Lu Cavichiolli - "Conversando Com Clarice - a Lispector"

Pintura do Dia


...E naquela manhã, meu pai chegou para mim perguntando o que eu queria de presente de aniversário. Acho que naquela época, eu tinha por volta de dezesseis ou dezessete anos. Pensei um pouco, e a resposta veio segura: quero pintar meu quarto.

Ele estranhou, mas levou-me para escolher as tintas. Escolhi um tom de areia - já não suportava o rosa-choque que minha irmã havia colocado. Agora que ela tinha se casado e mudado, eu poderia tirar aquela cor. Para as janelas, um verde clarinho delicioso, daqueles que dá vontade de comer um pedaço quando a gente olha. 

Bem, acho que meu pai aprovou a ideia, pois acabamos comprando tinta para a casa toda! 

Comecei pela parte pior: lixar as paredes, e tentar remover ao máximo aquele rosa horroroso. Depois, a massa e mais lixa. Deu muito trabalho. Eu chegava ao final do dia com o rosto, as mãos e os cabelos cobertos de pó branco e rosa. A casa, um quartel general da bagunça. Sem falar no cansaço que eu sentia!

Mas era um cansaço gostoso; era delicioso sentar-me no escuro à noite, quando meus pais já tinham ido dormir, no meio da sala bagunçada e empoeirada, e ficar pensando no que ela se transformaria quando eu terminasse. Ligava a TV e adormecia, ansiosa pelo começo de outro dia de trabalho.

E eu começava bem cedo! Meu pai me ajudava, pintando as janelas e o teto de madeira com o verde gostoso. Foi um trabalho em conjunto, e ficamos bastante unidos naquele tempo. 

Até que, finalmente, acabamos. A limpeza, a arrumação, livrar-nos da poeirada... arrumar as coisas no lugar... cheirinho de cera no assoalho de madeira. Tudo direitinho. Ficou bem longe da perfeição, mas estava perfeito para mim.

Ah... acordar de manhã e não ter que olhar para aquela tinta rosa-choque que doía os olhos! 

Aprendi, desde então, a sempre pintar o meu dia com uma nova cor, assim que a antiga começa a desbotar ou causar-me certa irritação.



Blog da Lu: Escritos na Memória - http://escritosnamemoria.blogspot.com/
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 16/04/2013
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