SELVA DE PEDRA! ATÉ QUANDO?
A selvageria das metrópoles tem me deixado meio selvagem e arredio. Belém já ganhou esse título, que para mim não tem nada de honorífico. A cada dia que se passa a luta pela sobrevivência é mais cruel e desigual.
Todos os dias antes de sair de casa não temos mais a certeza de voltar com vida e em perfeito estado físico e mental. Muitos só saem de suas casas porque têm de ir atrás da caça, com a qual alimentará as suas famílias. Mas ir à selva requer conhecimento do território e dos tipos de animais que provavelmente irá encontrar pelo caminho tanto de ida quanto de volta e planejamento estratégico, como a hora em que deve sair, o trajeto que percorrerá, onde esconder seus pertences, fazer uma leitura de qualquer suspeito, para onde correr, caso precise; verificar se o sinal está aberto ou fechado, atravessar qualquer caminho somente pela faixa, não falar com seres estranhos etc, etc, etc...
Não temos para onde correr. Mal o sol desponta para mais um um dia e as pessoas já caminham como formiguinhas que saem de seus ninhos. É um infindável vaivém. São poucos os semblantes amigáveis. São poucas as bocas que sorriem. São poucas as cabeças que sinalizam, desejando um bom dia ou um olá, para quem vem em sua direção. São poucos os olhos que se permitem olhar outros olhos e por meio de uma linguagem sem som, expressar um desejo retraído de se aproximar e dizer: bom dia! Como foi a sua noite?! Meu nome é tal! E o seu, qual é? Mas tudo isso fica só na vontade, pois o instinto de autodefesa fala mais forte, dizendo que é melhor ficar quieto porque a probabilidade é muito grande de o outro ser um predador.
No trânsito o perigo e iminente. Todo cuidado é pouco. As feras que ali correm, soltando os seus grunhidos e soltando fumaça pelas suas ventas, deixam bem claro que a vida humana tem pouco ou nenhum valor. Quanto maior a fera, maior a selvageria e desrespeito pela vida humana. Ah! Há, sim, no meio de todos esses animais selvagens do trânsito, poucos animais dóceis, que respeitam a vida humana. No entanto, esses mesmos animais também muitas vezes são vítimas da selvageria dos outros animais selvagens.
Pelas calçadas e pelas ruas o perigo é tanto iminente quanto pelo trânsito. Todo cuidado ainda é pouco. Nesses locais facilmente encontramos animais que se parecem com humanos. Eles se vestem como humanos, são bípedes como humanos, comem as mesmas coisas que os humanos e o pior de tudo: procriam como os humanos. Enfim, externamente, não há quem diga que não são humanos. Realmente não são humanos. Esses “hominídeos” se diferenciam dos humanos porque NÃO SÃO dotados de emoção, amor, piedade, compaixão, alteridade, empatia, razão.
Esses hominídeos saem de suas cavernas unicamente para atacar os humanos e levar tudo que encontrar na posse de suas vítimas. Alguns hominídeos levam até mesmo a vida das vítimas, mesmo que elas não demonstrem resistência aos grunhidos e ataques. Eles atacam a pé, montados em seus animais motorizados ou não. Usam armas, que foram criadas por hominídeos em estágio mais avançado. Essa armas, podem corta ou cuspir fogo. E logo após o ataque eles correm em direção as suas cavernas, onde dificilmente são encontrados. No princípio os hominídeos atacavam somente à noite, mas atualmente atacam a qualquer hora, valendo-se da sua aparência humana.
Tudo isso tem me tornado meio selvagem e arredio. Selvagem, pois o estresse do cotidiano faz-me disposto a atacar primeiro, caso perceba que serei atacado. Arredio, pois desconfio de todos e de tudo aquilo que não conheço. O ditado popular que mais eu detestava, agora, já está se tornado o meu lema: a minha reação dependerá da sua ação.