Menina de tranças
Pois é, estava ela ali outra vez, toda sexta feira era um dia especial. Dentro do seu vestido de chita e tranças presas em laço de fita, ansiosa descia e subia a escada de uns cinco degraus. O motivo de tanta ansiedade era a "pilha" de jornais e revistas que a mãe trazia do seu trabalho. Lá na casa da menina só existia um fogão à lenha, e os "papéis" que ela do dentista recebia , nada mais era que jornais e revistas já lidos, de dias ou meses atrás. Tudo aquilo a mãe recebia para acender o fogo do fogão. Os jornais, depois da menina olhar,ler, folhear e remexer, até que acabavam em chamas, mas as revistas, estas não! O Correio do povo era no formato antigo, as páginas bem maiores que as atuais. As revistas: Manchete, Fatos e Fotos, Cruzeiro, mais alguma será? ou não lembro mais...faziam a festa. A menina, não cabia em si de tanta felicidade toda vez que via a mãe dobrar a rua empoeirada com "tudo aquilo" debaixo do braço. Sentava a menina no chão da "sala" e esparramava tudo à sua volta. Ansiosa queria ela logo ver, selecionar. Foi assim que desde muito pequena começou a envolver-se com aquele "montão de papéis", e aos poucos foi tomando gosto. Em princípio, de quando em torno de quatro anos, o interesse maior era pelas fotografias, que ia recortando e guardando numa caixa de sapatos, mas assim que aprendeu a ler, começou a selecionar o que entendia, o que era do seu interesse. O contato com aqueles jornais e revistas foi de suma importância e fez a menina encantar-se com o mundo das letras que perdura até os dias atuais.
Aquela menina era eu.