Cadastro para drogados

Está ocorrendo um grande desvio de mérito dos temas e da seguinte forma: políticos querem livrar-se da corrupção que grassa ativando a moralidade contra a droga e os drogados. Caminho fácil e que pode dar em tirania como vem se apresentando. Nenhuma criatura é tão pessimamente compreendida quanto essa "parcela do ser" que é a de ser "drogado". Disse parcela e não a totalidade. Até "viciado" tem exceção porque pode ser sem nenhuma química. Viciado em roubar cofres públicos, por exemplo, e contribuir para a seca mortal do sertão, além de outras misérias sempre atualizadas.

A Folha de São Paulo publicou recentemente artigo sobre algum político que se esmerou em aprofundar ainda mais a incapacidade de compreender o mundo através de proposta de infame cadastro. Enquanto mentes lúcidas lutam para descriminalizar o preconceito em todos os seus sentidos, porque acaba virando receita de miséria humana pelo modelo atual jurídico, temos essa proposta nazista de cadastro para usuários de drogas. Examinem o autor do cadastro e vejam se ele não toma café, nem fuma, nem bebe uma cervejinha.

Nunca vivemos democracia tão estranha no tocante às liberdades individuais. Nunca um preconceito foi tão motivado pelos meios de comunicação que começaram criando a “guerra contra drogas”, nunca vivemos tão baixo quanto ao nível de compreensão humana para fraquezas humanas quanto neste período. Nunca fomos tão pouco solidários com a liberdade pura e simples do cidadão já massacrado. Nunca a medicina se ocultou tanto de sua deformidade em atentimento público quanto a presunção de melhorar através da mídia o quadro do atendimento, fomentando assim essa nova desgraça. Acaso os hospitais públicos estão miseravelmente destruídos como numa guerra muda por causa dos drogados? Nunca e causa e efeito rápido foi tão empregada para sublimar a complexidade humana feita de múltiplas referências. Cai na mídia e então no aproveitamento político.

Nunca o poder político esteve tão desesperado na concorrência de lucros gigantescos e mágicos como o dos drogados que se sentem aliviados dessa concorrência fumando um simples cigarro de maconha. Maconha que é sem impostos o que deve tornar os políticos corruptos uma fera por não poderem abocanhar um pouco mais do sangue nacional. Nunca lhes passou pela cabeça que as populações faveladas oprimidas encontraram no comércio das drogas uma chance de lucro impossível dentro desse molde político inclinado para desperdício de energias. Desemprego, fome, miséria e polícia.

Não existem drogados, existem cidadãos consumidores de substâncias que lhes promovem prazer diante da agonia social estabelecida. Não existem drogados, existem seres humanos consumidores (em sua experiência de vida) de substâncias que lhes determinam momentos de afago. Já o envenenamento por excesso é outra condição humana tratada pela mídia como resultante de exceções na imensa multidão saudável apesar do uso. É como a história da velha que dorme com o gato, se urina e culpa o gato por isso. Não existem drogados, portanto seria absurdo considerar um cadastro para eles. Há milhões de drogados no Brasil e eles merecem um imenso respeito e até do cuidado para com a qualidade das substâncias vendidas sub-repticiamente porque políticos determinaram em lei esse descuido completo desse tipo de liberdade individual. Cadastro para políticos corruptos!

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Liberdade e respeito às diferenças de comprimidos da compreensão humana.