A VIDA, ESTA DOCE ILUSÃO

A vida, esta doce ilusão, ao longo de nossa existência nos credita momentos tão bons que julgamos, pois, achar que vale a pena vivê-la.

São os chamados sentimentos bons, positivos, prazerosos, felizes. E, é claro, embora difíceis de acontecerem – e quando acontecem são efêmeros em sua estada –, quando eles chegam sempre exclamamos: viva a vida!

Sim, é verdade. É mais ou menos a magia que acontece todo início de ano, quando rejuvenescemos junto com ele e achamos que zeramos o relógio do tempo sobre nós. Ainda que percebamos que isto não é verdade, o simples fato de renovarmos nossas promessas já nos garante o equilíbrio que necessitamos para podermos enfrentar os momentos ruins que, invariavelmente, virão para dar, justamente, a contrapartida daqueles rápidos bons momentos que vivemos.

E como é salutar esse parque de diversão chamado vida! Em seus brinquedos temáticos, coisas boas se misturam às ruins e dão o tempero que precisamos para discernirmos sobre o que queremos e aquilo que fazemos de tudo para evitar, embora saibamos que no último brinquedo que subirmos, ele nos levará sempre para o mesmo (e único) destino.

Não importa, pois fazemos de tudo para prolongarmos esta doce ilusão. Para isso, fugimos de alguns brinquedos considerados perigosos e escolhemos aqueles que são mais estáveis e cuja permanência em seu interior, brincando, leve mais tempo e nos proporcione pequenas fagulhas de alegria, prazer e felicidade, ainda que, em certos momentos, necessitemos expor as nossas insanidades – embarcando em alguns brinquedos considerados de tempo curto – para, justamente, equilibrarmos o nosso corpo e a nossa mente, com a adrenalina necessária para encobrirmos nossas fraquezas, mágoas, tristezas e decepções.

Também passeamos – e muito – por esse parque gigantesco. Alguns conseguem visitar inúmeros locais; outros, nem tanto. Porém, todos os visitantes ficam admirados com as rodas gigantes que lá se encontram e a quantidade de pessoas que entram nas filas para poderem embarcar em cada uma delas. Mais uma ilusão criada pela vida: a pessoa que embarca em uma delas passa a ter, à medida em que a roda vai girando, a estreia de seu processo de caminhada. Primeiramente, na ascendente e, depois, na descendente, completando, em cada volta dada, o ciclo de cada um neste parque temático. Ah, os nomes dessas rodas gigantes formam um composto: início, meio e fim.

Em alguns pontos mais distantes da parte central do parque, nós podemos encontrar vários brinquedos, que para nós são desconhecidos, mas que, para uma boa parcela dos visitantes, são os preferidos deles. São os brinquedos do tipo Mensalão e Máfia das Ambulâncias. Estes brinquedos são custeados, em sua totalidade, por todos os visitantes, mas suas receitas nunca aparecem na contabilidade do parque, pois os seus visitadores, quando resolvem tomar o Trem-Fantasma, brincam de esconderem o dinheiro (alguns em cuecas, meias, maletas, sacos de lixo) que seria destinado à compra de ambulâncias para o hospital do parque. O pior é que estes brincantes costumam, com o dinheiro destes brinquedos, pagar mensalidades aos funcionários que exercem cargos de confiança no parque, em troca de eles ficarem calados e/ ou contarem da possibilidade de estenderem as mensalidades aos seus chefes. Normalmente, estes visitantes, depois que descem do Trem-Fantasma, ficam conhecidos como sanguessugas e aloprados.

Mas, na maioria, a ilusão da vida proporciona, no seu parque, a possibilidade de o seu visitante encontrar brinquedos que, de fato, possam prolongar e enaltecer a estada de cada um em seus domínios. Para isso, o parque disponibiliza um completo serviço de higiene mental e corporal, treinamentos de ética, moral e cidadania e assistência aos que embarcam para o passeio do Fim do Túnel – popularmente chamado de Paraíso.

Por fim, a doce ilusão da vida ainda nos dá o direito de sonhar e de ter, nos seus sonhos, a doce ilusão de viver a realidade destes, ainda que, para a maioria, os sonhos sejam realizados apenas na ponta da caneta rascunhada no substrato e, numa proporção um pouco menor, no verbo dito em voz alta...



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Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 14/04/2013
Reeditado em 14/05/2019
Código do texto: T4240499
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