Duas vidas, duas lidas.
Por Carlos Sena
Nunca se deve pedir entrada grátis para eventos de arte, especialmente teatro. Do mesmo modo, escritores mantenedores de paginas na internet nunca devem pedir pra serem lidos. São os dois lados da moeda quando o quesito é arte: ou a de representar ou a de escrever. Diferentes uma da outra, o ofício de ator é meio ATORmentado, já o de escrever não é tanto, mas é muito dolorido em seu processo criativo. Escrever requer um passado de conceitos, contextos, valores e modos de ver e sentir o mundo de forma critica. Escrever é como se carimbar um passaporte para a eternidade, posto que se estabelece em “pedra e cal” um sentimento eterno que as letras imortalizam no crivo do papel em branco. O trabalho de ator não. O ator imortaliza o autor que, muitas vezes nem ali está pra ver o seu texto tomando vida e forma. Há exceções como Fernanda Montenegro, Bibi Ferreira e tantos outros. Nesse caso, o ator tem que se buscar a si muito mais do que os escritores. Estes se já não estiverem em si nem chegarão a escrever uma página sequer acerca de qualquer coisa. O ator não. Busca-se a si em cada ato, em cada monólogo, em cada apresentação quer no circo mambembe, quer no sofisticado teatro. O ato de criação literária se diferencia, acima de tudo, porque é um ato solitário. O de ator é o contrário, embora se necessite de concentração, de laboratório para se alcançar o desempenho desejado. O ator se realiza com o aplauso do público no final da peça, o escritor nem sempre. Há quem leia um livro ou mesmo uma página de internet como o Recanto das Letras, mas não deixe sua opinião acerca do que leu. Mas, nada deixa um autor mais feliz do que ser encontrado na rua e alguém lhe falar: “li um artigo seu e adorei”, continue escrevendo, etc.
A vida do ator se parece muito com a do escritor no quesito finanças. Poucos vivem do oficio da escrita, bem como pouquíssimos vivem do ofício de se emprestar para serem outros personagens. É imenso o quantitativo de escritores e atores amadores. Mas, os dois se realizam em seus ofícios: o escritor se fazendo personagem, o ator os traduzindo em si depois deles descritos pelo autor. O escritor pode até ser ator, mas não necessariamente. O ator também pode ser escritor, mas dificilmente comporá um texto que primeiro vá ao grande público nas livrarias. O ator que escreve muitas vezes o faz direto no viés do teatro. Isso não tira o brilho do texto em seu conteúdo. Talvez só a forma perca um pouco no contexto literário. Apenas há o entendimento de que um texto composto para a literatura propriamente dita se presta com mais vigor às adaptações para o teatro. Neste ponto, o diferencial é feito pelo ator que dá a dimensão que o seu talento dispõe para dar vida a esse ou àquele personagem.
Independentes, são dois ícones da arte que não podem ser instados de graça. Arte custa caro e tem um preço. Fazer teatro é caríssimo e lançar um livro é muito mais dispendioso do que se imagina. Particularmente adoro ser lido sem que eu peça para tal. Algo como: “dá uma passadinha” na minha página no Recanto, etc. Da mesma forma que detesto quem, num lançamento de livro, não compra o livro do autor do lançamento que ele está presente. Se não pode comprar o livro não vá. Também depois não ligue para pedir um livro de brinde. O mesmo serve para o teatro. Há useiros e veseiros dessa prática: só vai ao teatro se alguém descolar um ingresso grátis. Nem pensar. Não devemos pedir de graça as únicas coisas que os artistas têm pra vender: o escritor, seu livro ou publicação; o ator, sua peça. Nessa questão o escritor leva um pouco mais de vantagem porque nem sempre ele depende da venda do seu livro para viver – Jorge Amado, Paulo Coelho e alguns outros não entram nessa conta. Já o ator, no geral, depende dos ingressos vendidos para a sua peça. Exceto quando a peça é mantida por algum órgão público, mas isso é mais exceção do que regra.
Por Carlos Sena
Nunca se deve pedir entrada grátis para eventos de arte, especialmente teatro. Do mesmo modo, escritores mantenedores de paginas na internet nunca devem pedir pra serem lidos. São os dois lados da moeda quando o quesito é arte: ou a de representar ou a de escrever. Diferentes uma da outra, o ofício de ator é meio ATORmentado, já o de escrever não é tanto, mas é muito dolorido em seu processo criativo. Escrever requer um passado de conceitos, contextos, valores e modos de ver e sentir o mundo de forma critica. Escrever é como se carimbar um passaporte para a eternidade, posto que se estabelece em “pedra e cal” um sentimento eterno que as letras imortalizam no crivo do papel em branco. O trabalho de ator não. O ator imortaliza o autor que, muitas vezes nem ali está pra ver o seu texto tomando vida e forma. Há exceções como Fernanda Montenegro, Bibi Ferreira e tantos outros. Nesse caso, o ator tem que se buscar a si muito mais do que os escritores. Estes se já não estiverem em si nem chegarão a escrever uma página sequer acerca de qualquer coisa. O ator não. Busca-se a si em cada ato, em cada monólogo, em cada apresentação quer no circo mambembe, quer no sofisticado teatro. O ato de criação literária se diferencia, acima de tudo, porque é um ato solitário. O de ator é o contrário, embora se necessite de concentração, de laboratório para se alcançar o desempenho desejado. O ator se realiza com o aplauso do público no final da peça, o escritor nem sempre. Há quem leia um livro ou mesmo uma página de internet como o Recanto das Letras, mas não deixe sua opinião acerca do que leu. Mas, nada deixa um autor mais feliz do que ser encontrado na rua e alguém lhe falar: “li um artigo seu e adorei”, continue escrevendo, etc.
A vida do ator se parece muito com a do escritor no quesito finanças. Poucos vivem do oficio da escrita, bem como pouquíssimos vivem do ofício de se emprestar para serem outros personagens. É imenso o quantitativo de escritores e atores amadores. Mas, os dois se realizam em seus ofícios: o escritor se fazendo personagem, o ator os traduzindo em si depois deles descritos pelo autor. O escritor pode até ser ator, mas não necessariamente. O ator também pode ser escritor, mas dificilmente comporá um texto que primeiro vá ao grande público nas livrarias. O ator que escreve muitas vezes o faz direto no viés do teatro. Isso não tira o brilho do texto em seu conteúdo. Talvez só a forma perca um pouco no contexto literário. Apenas há o entendimento de que um texto composto para a literatura propriamente dita se presta com mais vigor às adaptações para o teatro. Neste ponto, o diferencial é feito pelo ator que dá a dimensão que o seu talento dispõe para dar vida a esse ou àquele personagem.
Independentes, são dois ícones da arte que não podem ser instados de graça. Arte custa caro e tem um preço. Fazer teatro é caríssimo e lançar um livro é muito mais dispendioso do que se imagina. Particularmente adoro ser lido sem que eu peça para tal. Algo como: “dá uma passadinha” na minha página no Recanto, etc. Da mesma forma que detesto quem, num lançamento de livro, não compra o livro do autor do lançamento que ele está presente. Se não pode comprar o livro não vá. Também depois não ligue para pedir um livro de brinde. O mesmo serve para o teatro. Há useiros e veseiros dessa prática: só vai ao teatro se alguém descolar um ingresso grátis. Nem pensar. Não devemos pedir de graça as únicas coisas que os artistas têm pra vender: o escritor, seu livro ou publicação; o ator, sua peça. Nessa questão o escritor leva um pouco mais de vantagem porque nem sempre ele depende da venda do seu livro para viver – Jorge Amado, Paulo Coelho e alguns outros não entram nessa conta. Já o ator, no geral, depende dos ingressos vendidos para a sua peça. Exceto quando a peça é mantida por algum órgão público, mas isso é mais exceção do que regra.