A CULTURA EXPLODIU!
Por Nossa Senhora do Carmo!
A minha crônica de hoje é literal: acreditem, nessa semana que se vai, nossa bela cultura sacra, também resultante dum sincretismo de fé religiosa, realmente explodiu. Deu no jornal.
Antes de começar a escrever pensei com "meus botões":seria uma crônica séria, seria uma crônica de humor (mas nunca se deve brincar com fatos sérios)...ou simplesmente mais um inacreditável conto do cotidiano brasileiro?
Todavia, vou aqui "cronificar" minha perplexidade, que não é só minha não, mas dessa vez é (também e principalmente) lá dos nossos conterrâneos brasileiros , o pessoal do Sergipe, que nessa semana também viram a cultura explodir.
Na verdade nossa cultura "sensu lato" explode por todos os cantos do Brasil...todos os dias.
E mais que isso...os Sergipanos viram sua fé expressada numa obra de arte, uma santa confeccionada em fibra de vidro, escultura sacra que levou três anos para ser confeccionada pelo artista plástico Otávio Luiz Cabral , literalmente ir aos ares num acontecimento de causa quase hilariante não fosse o drama que o fato nos configura: estamos totalmente desaculturados no sentido de proteger nossa memória cultural.
Bem, isso não é novidade alguma , todavia assim que ouvi a notícia já me coçaram as letras.
Conta a nota que a Santa Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Carmópolis, uma cidadezinha quase lá da grande Aracajú, havia cinco meses que estava num depósito da prefeitura para ser restaurada. Louvável, ao menos alguém concorda que temos que restaurar e manter nosso acervo cultural...talvez nem tudo esteja perdido.
A prefeitura era o fiel depositário da Santa , digamos assim, Nossa Senhora do Carmo que foi vitimada por uma colmeia de abelhas.
O guardador responsável pela Santa, um pobre senhor cheio das boas intenções restauradoras da fé, assim que viu a Santa "enxamada de abelhas" usou do nosso conhecimento popular: ateou fogo no favo grudado na Santa de vidro e a arte a ser restaurada explodiu estufada sem chance de sobrevida.
Bem, às vezes dá certo, confesso que certa vez já deu certo aqui em casa, mas fogo com vidro são dois materiais que não se entendem muito bem, é da física.
Claro que as abelhas , e bem depressa, perceberam a incompatibilidade física dos materiais. E a Santa também. Não seria melhor ter chamado São Jorge com sua espada atual e globalmente tão brasileira? Um simples Plim Plim e a Santa estaria salva, com direito a nos reencontrarmos lá no Jornal Nacional de forma menos tragica e mais fantástica. Uffa, que pena!
Figurativo? Claro que é! NAda que acontece é obra do acaso.
Figurativo acontecimento por várias ópticas: primeiro que uma obra de arte por cinco meses num depósito do poder público já denota certo descaso...ou certa falta de fé, talvez.
Segundo que deveria ter algum técnico responsável pela guarda do patrimonio cultural da cidade. É pedir muito? Claro que é, por aqui sempre é.
Mas o assunto agora é sobre as providências que iraõ tomar com o pobre senhor bombeiro incendiário da santa. Coitado, deve estar arrasado, e ele não tem culpa de nada, é o que penso. Alguém explicou algo a ele?
Mas eu pergunto: Hoje em dia quem se importa com conhecimento técnico para algum cargo técnico? A bagunça é total. Esqueçam.
Até que retomemos o caminho certo da educação para tudo, com os conhecimentos nos seus devidos lugares para melhores resultados do todo...ara, que ainda explodiremos em vários setores, podemos aguardar.
E o pior: dessa vez foi a fé que explodiu pelos ares. Nem a fé se salva mais por aqui!
E sem fé, nessa nossa tremenda confusão, esqueçam a solução.
Só resta ter esperança de que explodamos devagarzinho...imperceptivelmente, sem muita dor, e com alguma doçura do néctar das assustadas abelhinhas...