O DELATOR SE AUTODELATA ("A lógica do delator é a de pretender fortalecer uma amizade, destruindo outras."— Eber Ivo)
Eu já tinha falado desta realidade; quando o professor repreende o aluno, isso será usado contra SI mesmo. Mas, eu me esqueci de dizer sobre a mutação do "vírus". Nesta semana, pensando que estava fazendo bonito e contribuindo com o sistema, apresentei, em segredo, alguns nomes de alunos descuidados ao estudar, pelo
menos em minha matéria, à coordenadora. No dia seguinte, outros alunos mais dedicados, da mesma sala, enciumados e ofendidos por não ter mostrado seus vistos à coordenadora e desconhecedores das intenções da mesma, ainda queriam reconhecimento. Então a mim delataram sobre a coordenadora ter pego os cadernos só das fulanas de tal, na minha ausência, para conferir a matéria de língua portuguesa. Como os alunos delatores queriam mostrar serviço (só teme quem deve) e eram os melhores, cumpridores de suas atividades, usaram-me maldosamente e foram contra a coordenadora, e nem sabiam que me mostravam a ponta dum "iceberg" abstrato. As alunas escolhidas à inspeção foram exatamente as que eu tinha reclamado delas, por não ter conteúdo algum nos seus cadernos.
O mais interessante desta luta por um restrito reconhecimento é, baseada nos cadernos, a coordenadora fez maquiavélicos relatórios à tutora (inspetora escolar), querendo dizer que o professor que não faz caderninho de plano de aula ministra uma aula sem conteúdo, ou seja, na linguagem delas: "não passa nada para o aluno". Assim, todos ficaram sabendo da minha inadimplência com os planos de aula. E aqui deixo claro os motivos de jamais os fizer, não por irresponsabilidade, justifico, mas por convicção profissional (Não preciso de caderninho de plano modelado e desenhado para apresentar uma boa aula e enriquecedora, se elas precisam, que o façam!). Porém, os planos de aula beneficiam mais a coordenadora do que professores e alunos! Pois quem é a parte mais interessada neles? Além do mais, será se constará nos meus planos de aula as "frutíferas" interrupções do tempo de minha aula, por outros colegas "sem planejamento"? Pois, constantemente tenho cedido parte de minhas aulas, quando não uma e outra integralmente, a outro professor (combinado ou não), atrasando minha matéria (a todo instante uma pessoa está à porta da minha sala pedindo licença para interromper)!
Qual professor não é calejado de tantas frustrações nesse sentido? Faz o plano e nada se cumpre, a sala de aula é viva, então impera a improvisação! Lembrando que o improviso de um professor formado e bem preparado significa um plano funcional. Apesar das cobranças de registros, de forma alguma o caderninho de plano faz de mim professor, e tento me convencer que eu não sou plano de aula.
Sim, mas voltando ao incidente inicial. Quando fui fechar o círculo de meu raciocínio, a lógica me fez descobri que minha atitude de falar mal de meus alunos (entregá-los à coordenadora) foi contra mim mesmo, pois esses se vingaram consciente ou inconscientemente de minha maldade. "O feitiço foi contra o feiticeiro." Uma garantia que o veneno delas também far-lhes-á mal? No entanto, para mim já o fez muito mal.
O verdadeiro plano de aula é volátil, ele existe pré-moldado na mente de todo professor, é saber administrar os conhecimentos prévios, aplicando-os na demanda surgida e emergente na aula, que requer tratamento imediato, a partir do currículo minimo determinado, não tem segredo, qualquer professor faz isso o tempo todo. Agora a pior pergunta de um aluno para seu professor: "é pra copiar, professor?"