OS OLHOS E A REMELA
Por Carlos Sena


 
Há quem goste dos olhos e há quem goste da remela. Pois é: o risco que corre o pau corre o machado, mas se rapadura fosse mole não seria doce. A vida, neste caso, só seria dura pra quem fosse mole. Há quem seja mole na vida, mas há quem sendo duro com ela termina amolecido. Viver dá trabalho: não há ganho sem perda e nada é absoluto dentro da nossa visão humana de limitações. Por isso, gosto é gosto. Agonia é agonia. Aquilo que para uns é gosto para outros, agonia lhe parece. E assim a gente vai vivendo e convivendo com as pessoas e as suas neuroses. Neuroses boas, digamos assim, haja vista que de perto ninguém é normal. Quem ama o feio, bonito lhe parece – eis a questão. Porque o feio e o bonito são estéticas de cada pessoa, embora existam padrões sociais estabelecidos de beleza e de feiura. Nas questões do sexo e da sexualidade isso fica muito patente, ou seja, tudo pode no sexo, desde que pouca coisa seja explicitado aos outros ou nunca o sejam. Afinal, o que se passa na cama é segredo de quem ama. Ou de quem mama? Amar e mamar são distantes, mas próximos ao mesmo tempo sob certos ângulos de visão.