Cuidado, não saia de casa...
Por: josafá Bonfim
A bandidagem não escolhe mais alvo, local, nem horário. Estamos por conta do acaso, virou um “salve-se quem puder”.
Numa noitinha dessas um amigo policial ao retornar de um plantão, foi deixado pelos colegas de serviço numa esquina para fazer um lanche, enquanto a viatura deixava outro colega mais a frente e retornaria para apanha-lo. Mal terminara de sentar-se, de súbito, dois elementos deram-lhe voz de assalto. Com uma faca colada ao pescoço, o policial a paisana, com toda cautela para não ser identificado ou demonstrar reação, que seria fatal, movimenta-se para entregar a porta-cédula. Um dos meliantes, por achar que sua vitima estava recalcitrando, deu-lhe uma estocada no pescoço, só não o sangrando, por este ter se esquivado, e a lâmina vindo atingir a cabeça do seu ombro. Por sorte, os colegas da viatura, que retornavam para pegá-lo, surpreenderam os assaltantes, prendendo-os, antes que a vitima, recomposta do susto e tomada pela fúria, disparasse sua arma contra os marginais.
Na delegacia soube-se tratar-se de dois menores: um, de 17 anos, fugitivo da Fundação Casa e o outro de 16, posto em liberdade pelo benefício da lei. Ambos acusados de roubo, assalto e tráfico de drogas; tendo um destes, num assalto, assassinado há poucos dias um vendedor de espetinho.
O preâmbulo ilustra que nem mesmo os agentes da lei, preparados para prestar segurança ao cidadão, estão imunes à violência desenfreada.
Não se discute que a matriz do problema está no desajuste social, mas a ineficácia das leis e sua inadequação no tempo, somado ao beneplácito da impunidade, são fatores que propiciam o surto crescente de violência.
O que se ver hoje no noticioso policial, tido outrora como mazelas dos grandes centros urbanos, pode está ocorrendo na corrutela, ao lado da sua casa, com um membro da sua família.
Os organismos de repressão, prevenção e controle, mostram sua ineficácia, perdendo a dura batalha contra o crime. Que pipoca desde o roubo do celular aqui na esquina, até desvios de milhões dos recursos públicos que sangram o erário; passando pelo narcotráfico, crime organizado e tantas outras tipificações. As estatísticas confirmam: em qualquer lugar, a todo instante, está em execução um crime hediondo, sem que se coloquem os criminosos na cadeia, e mesmo ocorrendo prisão, logo ganham liberdade; quer seja pelo beneplácito de uma lei frouxa, ou mesmo, favorecidos por uma investigação mal feita. Acrescente-se a isto, o favorecimento ilícito, promovido pela autoridade judiciária relapsa ou venal. Mata-se mais aqui no Brasil, que em qualquer guerra civil.
Não encontro outra analogia: é um verdadeiro “deus nos acuda”.
Parece exagero, mas não se pode ir a feira, ao supermercado, ao banco, ao lazer, sob o risco de dar de cara com uma arma engatilhada, e simplesmente não mais retornar ao convívio do lar, mesmo sem esboçar qualquer reação.
O momento mais angustiante vivido pelos pais de família em nossos dias, é quando aguarda o retorno do filho de uma diversão, ou da escola, que seja...
Estamos condenados até ao sedentarismo, pois não podemos mais arriscar as antigas caminhadas de quarteirão, outrora incomodadas, apenas, pelo susto vindo dos terraços, pregado pelos vira-latas guardiães.
As autoridades. Entenda-se: nosso parlamento. Não tem dado a devida atenção a essa tragédia social, que só tem parâmetro com a fome e a epidemia.
Enquanto o planalto não efetivar medidas para sanar a exclusão social, com melhor distribuição de renda e inserção, aqui na planície deveria se criar mecanismos para conter esse carma.
Girando no texto, caímos no velho gargalo: legislação caduca e ineficaz. Onde se poderia começar pela reforma da Lei Criminal, a partir da redução da maioridade penal, matéria já no forno. Pois se porventura tais medidas não forem suficientes para conter o crime, seguramente servirão para diminuir a impunidade absurda, motivadora da prática criminosa, que vem devastando famílias.
Sem esquecer, claro, da melhoria do aparelhamento e adequação de instituições como o organismo policial, que anda aos pandarecos.
O problema pode estar bem acima das conjecturas aventadas, mas se pelo menos estas medidas não forem colocadas logo em ação, toda e qualquer perspectiva de controle da violência será mais um mero paliativo. E essa inépcia é um verdadeiro crime de lesa pátria. Pois sem segurança, não existe cidadania, e sem esta, extingue-se o conceito de Nação.