A cantora
Marina se dizia cantora. Ousadia para tanto ela tinha, porém a voz não ajudava. Era um verdadeiro martírio escutá-la. A alcunha de cantora veio do povo, que a tratava assim por deboche. Marina era evangélica, e em um breve período participou do coral da igreja, mas o regente foi obrigado a pedir delicadamente que ela deixasse o grupo. A moça além de desafinar todas as canções, ainda tinha a mania de achar que quem destoava eram os outros participantes. Eram uma arenga todos os ensaios. Bastava iniciarem e a voz de Marina se sobressaia agudamente atrapalhando ate mesmo os músicos. A voz dela era tão desagradável, que os violões emudeciam. O pior era quando ela pedia oportunidade para cantar durante o culto. Os tímpanos dos fieis reclamavam de tamanha agressão. Muitos despistavam que iam ao banheiro, ou beber água, para fugirem do som estridente. Não era raro flagrar alguém tapando os ouvidos disfarçadamente. Muitos oravam não por bênçãos, mas para que Marina não cantasse. Até festa de aniversario Marina conseguia estragar, pois insistia em cantar em homenagem ao aniversariante. Por educação permitiam e depois pediam desculpas aos convidados. Marina tinha consciência de que seu canto desagradava, mas no íntimo acreditava que aquele povo tacanho, não entendiam nada de música. Em sonho ela se via descoberta por um grande caçador de talentos, por isso é que ela cantava e cantava...