Coisas que acontecem
Quando Leny me apresentou o seu novo companheiro, nem dei muita atenção. Estava na hora do almoço e tinha que voltar apressada para o trabalho. Havia uma certa tensão no serviço. O corte para reduzir gastos acertava em cheio no primeiro que chegasse atrasado ou cometesse qualquer deslize. Eu não queria ser acertada por esta flecha infalível.
Mal reparei no namorado da amiga mas deu para perceber seus olhos arregalados em mim. Deixou-me sem ambiente, logo encontrei um jeito de me escapar daquela situação.
Mais tarde, quando ele me ligou, atendi sem estender o motivo da ligação. Muito simpático, se desculpando, queria informações sobre os gostos da Leny. Precisava comprar um presente para ela, ele disse. Desculpa esfarrapada essa dele, eu logo percebi.
Ligou outras vezes, muitas outras e quando percebemos, já estávamos passeando e até apostando corridas de bicicleta, na rodagem ampla que se perdia na paisagem. Uma vez até perdidos na estrada ficamos. Deu um tititi aumentando o peso da traição nos meus ombros, uma certa pontinha de moralidade. As ligações agora eram todos os dias, todas as horas, até no trabalho. Estava ficando perigoso, para meu desespero. Encontros para o almoço, todos os almoços. Não deu outra, comecei a sentir tonturas no trabalho e até desmaios.
Resolvi dar um basta, dar um tempo. Sentia falta dos encontros, dos almoços acompanhados...
Contato com o marido da Leny, estava fora da agenda, os encontros cessaram, ele não apareceu mais. A esposa cobrava mais assistência, eu pensava.
Um dia, ele deu sinal e avisou que precisava falar comigo. Assustei-me quando comentou que traria a esposa. Comecei a questionar as razões do encontro mas resolvi enfrentar a situação. Delicadamente deixou-me mais tranqüila.
Na noite seguinte, quando eles chegaram, Leny deu-me um abraço bem forte e agradeceu-me por fazer o seu marido feliz. Ao observar o meu desconforto, foi logo explicando:
- sou estéril e ele quer ser pai.
Juraci de Oliveira
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Pirapora MG