O VELHO “FILHO DA PUTA” E A CHAVE NO PESCOÇO

Na minha infância existiu um velho que a molecada detestava e o chamávamos de velho filho da puta. Era avô de um colega nosso e andava sempre bem vestido com roupas finas. Só o fato de usar aquelas roupas já o afastava de nós, não parecia gente nossa, parecia um cara metido. A garotada tinha muitas idéias, como fazer carrinhos de rolemã , patinetes, ou carriolas e o problema era a falta de ferramentas, madeira até tinha à vontade, mas as ferramentas eram poucas e os brinquedos mal feitos se quebravam logo. Conseguíamos martelo, pregos, serrote e mais nada. A nossa raiva quando víamos o idoso é que ele carregava uma chave pendurada no pescoço, a chave de um tesouro, uma caixa de ferramentas completa. Quem viu disse que havia de tudo, mas que o velho não dava e nem emprestava, e por isso era tido como um ser repugnante. Há alguns anos comprei todas as ferramenta de pedreiro, de eletricista, de mecânico além de ferramentas elétricas como serra, furadeira esmeril e etc. Fui comprando conforme as oportunidades e necessidades e todas foram colocadas em um cômodo feito para essa finalidade. Atualmente se preciso de um alicate ou uma simples chave de fenda, tenho que comprar e esconder e duram até serem descobertas. Basta emprestar para não ver nunca mais. Agora não acho que o velhinho era filho da puta e sim os que não me devolvem as ferramentas. Talvez a solução seja comprar uma grande caixa para guardar as ferramentas, trancar e carregar a chave presa em uma corrente no pescoço.