Oportunidades, Graus e Mediocridades
Quando na faixa etária conhecida como “jovem”, não tive maturidade para pensar, por exemplo, que tudo tem grau. Grau de inteligência, grau de cultura, grau de sofisticação, grau disso, grau daquilo... É. Aí eu não poderia então me “classificar” entre os vários graus disponíveis. Além de tudo, (e talvez por isso mesmo) faltavam-me certas oportunidades. É que o grau de... (vamos ser positivos)... De riqueza da família era um pouco abaixo do exigido para se freqüentar escolas particulares. Claro, havia outros graus a influenciar minha trajetória: bairro, a própria falta de ambição dos “responsáveis”... Bem, também não vou ficar querendo por a culpa nos outros. O meu grau de auto-suficiência não deixaria.
O fato é que a perpetuação me perseguiu. Por ter tantos graus apenas medianos estou escrevendo este texto, cujo grau de utilidade, entretenimento, prazer de ler etc., não pode ser determinado por mim. Só o iniciei porque pensava, lá na primeira palavra, transmitir a minha frustração. Não com minha mediocridade, mas com a de muitas outras pessoas com quem eventualmente convivo ou convivi nesta odisséia dos graus. Pessoas que, independentemente do grau de alguma coisa, tiveram “oportunidades”, bafejadas que foram com os sopros divinos da sorte. Não estou falando daquela inveja que sentimos injustamente de alguém bem sucedido. Não! Estas às quais me refiram não o são, visto que o meu grau de entendimento de “bem sucedido” passa pela estabilidade, e esta jamais dispensa certo grau de competência. Estou falando das que são burras mesmo. Que precisam dos outros o tempo todo para se manterem com o nariz do lado de fora. Um tipo de dependente químico das alquimias alheias, mas que têm a sorte de ascenderem por um traço qualquer que as ligou às oportunidades. As vemos em tudo que é lugar. Tentando impor o padrão de sua interpretação da vida pela força da posição, sem a devida coerência. Usando a arma que a posição lhes deu. Mais uma vez, dependendo do grau de influência que se consiga exercer sobre elas, será possível amenizar os estragos e ainda sentir um pouco de prazer com isso. Quando não dá a coisa fica feia. Não será preciso ir longe para meu (minha) querido (a) e inteligente leitor (a) perceber que a inter-relação em questão se passa no ambiente de trabalho. Depois do da família ele é o mais importante. Em certos casos, o único mesmo.
Poderia ter resumido todo esse palavrório em uma frase: ”é horrível lidar com gente medíocre”. Mas provavelmente ficaria sem profundidade. Talvez só nesse sentido a mediocridade a tenha. Na verdade há os medíocres doces, pacatos e generosos. E esses não mereceriam tal generalização. Em algumas oportunidades são até válvulas de escape para os aborrecimentos a que os outros tipos nos levariam. Vale salientar que essas pessoas possuem, em sua grande maioria, o velho instinto de sobrevivência que as move às cenas dos crimes. Esta inerente parte de si é freqüentemente confundida com força de vontade. Devem ter virado a mesma coisa a partir das oportunidades que lhes são dadas. Se há como provar que o mérito de não se largar o osso é do dono dos dentes a despeito de quem o seja, retiro tudo que disse.