Um tributo à Literatura e ao Teatro
Quando fiz 4 anos e um terço, minha mãe me deu uma frase. Nunca perguntei o que dizia, nem pra quê servia. Eu gostei da frase assim: sem dizer nada. Levei-a pro dia do brinquedo por mais de 17 meses. Uma vez, não lembro como, descobri que ela era de desmontar e remontar, feito Lego. Quebrava em seções estúpidas, em palavras sem término, em sílabas métricas, até que em letras - e aí era o limite. Um menino da oitava série vivia me dizendo que a frase estava errada. Ele não sabia que era só pra ficar bonito - e sempre ficava.
Terça-feira passada, conheci um rapaz. Ele disse que ia me ensinar, em 6 dias, a coisa mais valiosa que eu poderia aprender na vida. No primeiro dia, ficou me fazendo balançar a cabeça para todos os lados, feito boba. No segundo dia, deu de ombros por 12 minutos seguidos - no sentido físico do gesto e, também, diante do meu tédio insatisfeito. No terceiro dia, brincou de ser robô com os braços e as mãos. O quarto dia foi de caminhadas intermináveis, levantando exageradamente as pernas e entortando os pés. No quinto dia, ele me passou as mãos pelo corpo todo, como a me lembrar das partes que eu me havia esquecido. No sexto dia, ele me mandou usar tudo que eu tinha aprendido nos dias anteriores, ao mesmo tempo. Foram 6 minutos desarticulando, desarticulando... E - assim que meu corpo ficou a esmo, espalhado pelo chão, rastejando pelo ar, esquecido do antes - o rapaz me declarou pronta, formada no curso mais importante da minha vida.
Que todos tenham a oportunidade de casar, no viés da liberdade, as coisas da alma com as do corpo a as das letras. Subversiva e inexplicável, a maneira de se conhecer para além da consciência.