NOSSOS SONHOS
Não há quem em sã consciência que não acalente sonhos, diversos em espécie, qualidade e finalidade, mas sempre sonhos. Sonhos acordados.
Os sonhos que sonhamos dormindo são apenas sonhos. Os sonhos que sonhamos acordados são a essência de uma vida.
Para esse sonho, aquele desejo bem lá no fundo do coração - muitos têm mais de um - outros uma verdadeira coleção; vamos colocar neste espaço, sugestões, pensamentos e experiências que sem serem autoajudas piegas, são um colóquio de amizade e cooperação à difícil e maravilhosa arte de SER amigos.
Milton já disse que "amigo é coisa de se guardar". Bem perto do coração!
Para começo, temos que descobrir na coleção de sonhos, aqueles que são novos e aqueles que desejamos requentar por diversos motivos de interrupção, começar a perseguí-los ou recomeçar sua busca, em sua nova situação ou versão atualizada. O momento da perquirição, ou o agora, você já planejou as maneiras de concretizá-los. Como já disse: escolhemos o sonho que desejamos em primeiro lugar, para não ficarmos correndo a esmo como a resposta do gato para Alice: “Quero ir embora” - diz Alice. “Para onde?”- pergunta o gato. “Para qualquer lugar” - responde Alice. “Então qualquer caminho te serve” - diz o gato! Ou para quem não sabe para onde ir qualquer porto é paradeiro. Outra é aquele pensamento: "Quem procura o Divino além-mares, corre o risco de perdê-lo dentro de si mesmo".
Não precisamos correr atrás de todos os sonhos de uma só vez como vimos.
Outra bússola ou leme de suma importância são os mapas mentais cuja memória reteve os pormenores da estratégia. A vida nos dá o ímpeto da vontade, mas precisamos de uma mente preparada que possa aquilatar os perigos, transtornos, momentos propícios e estratégia de campo. Assim também verificamos o tamanho de nosso sonho: se podemos carregá-lo ou por falta de "combustível" teremos de abandoná-lo, o que é sumamente frustrante. Quanto ao preparo uma ferramenta útil como um canivete suiço é o livro: "Na verdade, devemos ler como se estivéssemos em busca de poder. O livro deveria ser como uma bola de luz em nossas mãos"- Esra Pound.
Não conseguimos realizar nossos sonhos, e me incluo nisso, porque estamos condicionados a um lugar que é nosso ninho. Nascemos nele, nossa mãe e pai o forraram com plumas quentes e macias, nos alimentaram na boca, deixaram-nos criar penas e ficar, fortes e grandalhões, daí arriscamos um pequeno vôo e se for incômodo, logo voltamos ao ninho. Se chover nossa mãe nos cobre com as asas. Nada melhor que isso! Até aqui para que sonhos?
Vem o pensador e nos diz o que muitos não querem ouvir: "Nós nos comportamos como se o conforto e o luxo fossem as necessidades prioritárias da vida, quando na verdade, tudo de que precisamos para ser felizes é algo que nos entusiasme." - Charles Kingsley
Quando temos necessidade de sair fora do ninho, logo nos sentimos desconfortáveis, ficamos desencorajados por muito tempo, e cansados antes de qualquer esforço. Digamos, até exaustos só de pensar em abandonar o ninho. Por isso olhamos em volta à distância de um braço, ou extensão do ninho a fim de recolher o que havíamos começado e parado como: "um crochê" qualquer. Retomamos pensamentos surrados de tanto pensar coisas, emoções amenas mais familiares, mais repetitivas, enfim nada mais comprometedor que requeira uma atenção sequencial. Porque "é difícil combater um inimigo que ocupa um posto avançado dentro de nossa cabeça".
Muitas pessoas navegam sem rumo como se fosse uma criança no comando de um transatlântico. Um eterno sonho infantil. Para realizar os sonhos acordados, temos que ser adultos no comando, temos que despertar a criança e sermos adultos. Disse Churchil: "De tempos em tempos, as pessoas tropeçam na verdade; mas rapidamente se recompõem e seguem adiante como se nada tivesse acontecido".
A verdade que dói é que, ir atrás do maior sonho que você elegeu é tão trabalhoso quanto você fazer um faxina pesada, juntando tudo aquilo que você guardou como se fosse útil há anos. Você não deseja mais aquela quinquilharia, mas vai protelando, terá que ler quase tudo para separar, examinar cada objeto. O negócio é pensar: já que eu vou passar o resto de minha vida fazendo alguma coisa, por que não começar por esta faxina, por este trabalho, por esta iniciativa, ou algo que eu realmente queira?
Outra coisa, o sonho é inerente a todos nós, razão pela qual não estarmos realizando- o é que o problema é nosso, está dentro de nós. Mas fingimos que nada temos a ver com as derrotas aí surgem as desculpas: foi o destino, não era a hora, não era para mim mesmo. E o pior jogamos a culpa nas coisas, pessoas e situações diversas - é lógico - fora de nós. "Este é um mundo em que as pessoas não sabem o que querem mas estão dispostas a mover céus e terras para consegui-lo. É o "marcar passo" da ordem unida militar, continuam marchando, mas sem sair do lugar. Ou o final da famosa peça “Esperando Godot”: - Vamos?
- Sim, vamos.
E os dois não se movem. (Palavras finais da peça, de Samuel Beckett).
É um desperdício, ver tanta gente capaz (olhem para Stephen W. Hawking, totalmente deformado por uma doença degenerativa, que o tornou uma bola deformada - passando a vida na cadeira de rodas) e mantém aos 70 anos, a mente completamente brilhante tendo escrito com um só dedo, o que resta funcionando, diversos livros de física e astronomia. É comovente a busca de seu sonho, mesmo enclausurado numa redoma de sofrimento.
É triste, mas necessário os paralelos, em frente ao desperdício de milhões de formas que fazemos da vida. E, no entanto mesmo sabendo desse desperdício o mundo dos seres humanos continua esperando Godot. Abandonamos o desejo de nosso coração - mas, em algum lugar bem no fundo sabemos disso. E, mesmo não lembrando exatamente todo o delinear do sonho, sentimos falta dele.