O Casamento de Jandira

O CASAMENTO DE JANDIRA

Primeira filha do casal, moça bonita, prestimosa e vivaz. Jorge Pio o pai, de fisionomia fechada e caráter incontestável, Maria Ribeiro Gonçalves submissa, fiel aos mandos do marido cuidavam da filha como uma joia, e ela ali crescia formosamente.

Morava num lugarejo chamado Palmeira, sem saber que seu futuro marido, junto da família, era o cacheiro, o responsável por cuidar de um armazém montado com a economia da venda da safra, que na época criavam-se porcos e vendiam em ponta Grossa. Jandira com seus nove anos tudo assistia, brincava como menina que era e obedecia a Alcindo como seu irmão mais velho.

O tempo se passava e a menina crescia na sua formosura, mas logo papai Jorge viu que era preciso casar a menina moça, costumes dos anos quarenta onde o pai, o chefe, o imperador mandava no casamento, nos sentimentos dos filhos e filhas. E assim se consumou.

Com quatorze anos, a adolescente despertava olhares dos moços da redondeza, foi pedida em casamento por muitos outros rapazes, mas sem sucesso porque já havia sido prometida pelo pai a Alcindo, que viu a menina crescer, cultivando-a como uma rosa vermelha, a mais formosa do jardim.

Tudo planejado, casamento para dali noventa dias, pois o padre só visitava a comunidade de três em três meses. A festança foi marcada: galinhas, porcos e até um boi foi assado, parentes, vizinhos e conhecidos eram muitos, porém Jandira via tudo se suceder sem noção alguma da responsabilidade do casamento, também tinha apenas quatorze anos e brincava de boneca.

O grande dia chegara, para Alcindo e os pais da noiva, mas a menina moça queria ficar bonita, dançar na festa e divertir-se com as outras meninas. Na noite do casamento o baile era o momento esperado. Mas como na época também aconteciam juras, crimes passionais e roubo de noiva como diz a música. Golpe de Mestre. Jandira era esperada atrás da igreja do pequeno povoado, cavalos arreados, a música corria solta. Antônio, sem nada desconfiar, e como era de costume convidou a noiva para uma contradança, mas os passos foram poucos e “um contratado” aproximou-se do casal e com um tiro a queima roupa matou o padrinho que naquele momento dançava com a afilhada, Jandira de nada compreendeu só se viu ensopada de sangue, seu vestido rasgado na confusão e atirada pela janela, caiu em uma horta, nos fundos da casa, lampião apagado com um tiro e o povo sumiu. A festa acabou. No outro dia, a luz trouxe a verdade, morreram dois, sem saber o porquê, mas o combinado era de roubar a noiva para outro que a esperava, tudo porque naquela época os pais é que arranjavam casamentos para as filhas, sem ao menos consultar o coração da parte interessada.

Jandira, a mulher bonita vivera seus muitos anos de casada, teve filhos, cumpria com seus deveres de esposa, amor? Para que? Acostuma-se com tudo, até com sentimentos errados.

Graduada em Letras pela Unioeste/Cascavel. Professora de Língua Portuguesa e Literatura do Colégio Estadual Desembargador Antônio Franco Ferreira da Costa, Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná, inserida no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2009-2011. e-mail ilza_goncalves@hotmail.com