Na Semana Farroupilha
Na Semana Farroupilha
Certa feita estávamos no plantão policial. Estava um dia calmo, sol forte. Era o dia 20 de setembro e o movimento era totalmente entre pessoas vinculadas ao tradicionalismo.Para entendermos melhor, todos somos gaúchos e temos muito orgulho de nossa terra, dos feitos de nossos heróis e da grandeza dos sentimentos que temos por esta terra, a qual chamamos de Pátria.
Pois naquele dia 20 de setembro, como ocorre em todos os dias 20 de setembro, em todas as cidades do Rio Grande do Sul, há muita festa, muitos homens e mulheres em trajes tradicionalistas, as mulheres com vestidos longos, enfeitados, com flor no cabelo, os homens vestindo bombachas e botas, cinto cartucheira, camisas brancas, alguns de paletó, mas todos com o lenço tradicional no pescoço. Muitos homens e mulheres encilham cavalos para desfilar, alguns se utilizam de carroças, caminhões enfeitados. Tocam gaita, violão, assam carne de ovelha ou de gado. A maioria faz parte dos Centros de Tradições Gaúchas, entidades de culto às tradições gaúchas, as quais já estão espalhadas pelo mundo. Armas não são permitidas nos desfiles, a não serem facas ou adagas, porque são da utilidade para o churrasco. Mas alguns usam aquelas garruchas muito antigas, do tempo das guerras, desde que não disparem, estejam com o gatilho lacrado.Mas nem isso se usa mais.
Assim passou a manhã. O plantão calmo e, no meio da tarde, colegas que estavam de folga vieram para a Delegacia conversar e tomar chimarrão. Não dava nada e a conversa estava animada quando chegou um amigo, não era policial, era apenas amigo de todos. Estava ele ali naquele meio, conversando, dando risada, quando surgiu na esquina um homem a cavalo. Não era um homem a cavalo, era um centauro dos pampas, um legítimo gaúcho, pilchado como deve estar um gaúcho no dia da Revolução Farroupilha. As botas brilhavam e as esporas tilintavam, o cavalo que montava era um animal de postura impecável, tostado, crinas pretas, cascos aparados, um exemplar de eqüino para levar um gaúcho ao topo do seu orgulho.Passou pela Polícia como se fosse o próprio General Bento Gonçalves.Todos pararam de conversar e ficaram olhando aquele homem a cavalo.Levava no cinto a sua adaga e no lado direito do cinto cartucheira, o seu revólver.
Eis a questão, estava feito o bochincho. Não pode ninguém estar armado de revólver no desfile e muito menos na rua, pior ainda na frente da Polícia.
-Ele está armado! Disse alguém.
Alvoroçaram-se vários policiais para parar o cavaleiro e desarmá-lo, quiçá prendê-lo, momento em que o nosso amigo gritou-nos:
-Senhores! Um homem desses não pode ser preso. Vejam o garbo e a elegância como desfila esse gaúcho!
Abriu os braços à frente de todos e continuou:
-Não lhe quebrem o curincho, deixem-no ir, pois é 20 de setembro! Ou vocês prendem-no e lhe tiram o de mais precioso que é o seu orgulho de gaúcho, ou ele vai atirar ,matar ou ferir e talvez morrer.
Enquanto isso, que ninguém é mais trouxa, o gaúcho esporeou o cavalo e desapareceu em pouco tempo, porque o cavalo dele era especial, digno de um Farroupilha.