Diga-me com quem tu andas...

Ao contrário do que muitas pessoas pensam; essa afirmação não reproduz um texto da Bíblia. Trata-se de um dito popular, o que não diminui em nada a veracidade do seu conteúdo.

Eu havia completado treze anos e enxergava o mundo com uma visão diferente da infantil. Dentre os meus colegas, destacava-se um, cujo nome não será citado por ética, o qual exercia uma forte influência sobre minha vida. Éramos muito amigos e passávamos muito tempo juntos. Algo me impressionava nesse meu amigo, ele era muito esperto, bom de bola e corajoso. Sua coragem e esperteza eram tão grandes que ao entrar em alguma mercearia ou bar, sempre furtava alguma coisa; nem eu me percebia. Um doce, uma fruta, sempre algo interessante. Cada produto de furto era levantado como um troféu, o qual era repartido comigo. Um dia serei tão esperto quanto ele, pensava comigo.

Certa feita, estando eu em companhia de outros colegas, logo quis mostrar a eles que já estava tão esperto quanto o meu amigo. Entramos em um bar com o pretexto de olhar preços e ficamos olhando as coisas. O dono do bar estava do lado de fora, à porta do bar lavando seu Aero Willis. Apostando na distração do dono, fui sorrateiramente a um caixote de bananas, desprendi uma delas da penca e a escondi na cintura da calça pôr baixo da camisa.

– vamos embora, turma! - Disse aos outros, quase me ufanado do meu grande feito.

Antes de colocar o pé do lado de fora, o dono do bar surpreendeu-me segurando-me pelo peito da camisa.

– Seu sem-vergonha, me pague a banana que você roubou!

Meu mundo ruiu naquele instante. Os meus castelos de areia foram varridos pelas ondas, não deixando qualquer torre de glória. O tempo parou, foi quase um instante eterno. Parecia um sonho mal-assombrado do qual eu queria despertar. O olhar feroz daquele homem, cujas palavras ainda ecoavam em meus ouvidos, estava diante de mim, que indefeso e espremido contra a parede temia olhar-lhe os olhos. Meus planos falharam. Eu havia sido traído pelo meu amigo, cujo exemplo eu seguira. Porém agora, humilhado e acuado sob a mão opressora daquele homem, eu padecia o justo vexame, ao qual todo ladrão deve ser submetido. Eu não sabia o que fazer. Levantando a voz, sem levantar os olhos, em tom súplice quase inaudível, sussurrei-lhe trêmulo:

___Eu pago!

Não havia outra saída. Não cabia devolução do produto. Paguei. Cabisbaixo, levando a vergonha estigmática de quem roubou mas não carregou, saí daquele lugar direto para casa, sem dar uma palavra a qualquer pessoa.

O herói tornou-se vilão. O admirável tornou-se odioso. Órfão de pai, desde os três anos, vivi sob os cuidados de minha mãe, dona Terezinha G. Paula, honorável senhora, a qual se desdobrava em plantões hospitalares para dar comida e educação aos quatro filhos, dos quais eu sou um. Eu não poderia admitir que tal fato chegasse aos ouvidos de minha mãe, a decepção seria muito grande: ser mãe de um ladrão. O ditado popular se cumprira em minha vida; andei com ladrão, tornei-me ladrão.

Isso continua sendo verdade: Quem anda com ladrões, torna-se um ladrão. Quem anda com mentirosos, torna-se um mentiroso. Quem anda com bêbados, torna-se um bêbado. Quem anda com traficantes, torna-se um traficante. Quem anda com assaltantes, torna-se um assaltante.

Houve remédio para a minha vida, nunca mais andei com meu amigo, afastando-me dele definitivamente. Compreendi que ele não poderia ser o ideal para a minha vida. Hoje não sou ladrão.

Diga-me com quem tu andas e eu direi quem tu és!

Aconteceu comigo, não deixe acontecer com você.

Naassom
Enviado por Naassom em 11/04/2013
Reeditado em 11/04/2013
Código do texto: T4235008
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