Paisagem de aeroporto
Por Carlos Sena


Ver um aeroporto “se acordar” é interessante! É como me senti hoje no Aeroporto de Brasilia aguardando o avião para minha terra, Recife. O dia chuvoso, dava-nos a impressão de estarmos nalgum país da Europa. Não que se compare isso aqui com a Europa, mas no visual cinzento – misto de chuva , frio, horizonte turvo, nuvens carregadas. Barulhos de avião chegando, outros saindo. Eu saindo. A vida ficando. Ou eu ficando com a vida que vai saindo em cada minuto? Distante, o dia parece mesmo se entregar a rotina de si mesmo em busca de quê ninguém sabe. Porque os destinos, num aeroporto, não estão estampados nos painéis de embarque e desembarque. Os destinos dos que aqui passam, ou chegam, só eles sabem. Só sós sabemos, mas nem eles podem saber do nosso nem nós o deles, pois os destinos das pessoas não se definem nos seus trajetos de tráfego aéreo ou terrestre. O destino das pessoas pode ser que seja Deus quem dá. Mas o meu sou eu quem me dou de presente, como agora estou me dando: viajando para minha terra, mas ficando comigo em qualquer lugar. Porque o lugar dos homens é onde seus sonhos se encontram – ora postos, ora dispostos. Meus sonhos de Brasília são como uma chuva que passa. Podem mais ser um pesadelo bom, se é que assim se pode dizer de um pesadelo. Porque aqui, diferente do Recife, não é uma cidade inventada pelos homens. Aqui é uma cidade que saiu de uma prancheta de um arquiteto – eis a grande diferença. Sonhar por aqui é mais difícil do que sonhar no Recife. Ou  em Salvador. Ou no Rio. Há frio por aqui cercado de gente por todos os lados. Diferente da minha terra que quando há frio é porque o tempo mudou e as pessoas se agasalham no riso, no bom humor, no prazer de ser feliz com nada ou com muito pouco.
Assim, daqui desse belvedere se deslumbra a paisagem bucólica – mais cólica do que paisagem. Mas, se toda terra tem seu uso e toda roca tem seu fuso, fico com fuso, confuso e vou descer para aguardar meu avião...