Espelho
E eu me vejo.
Sem pudor ele me revela.
Vou quebrar esse espelho, antes que ele me arrebente.
Espelho idiota. Vou fazer pedacinhos de você.
Caquinhos e mais caquinhos, que vão se espalhar por aí, até sumir, evaporar e, assim, vou ficar livre de mim mesma.
Quem você pensa que é pra me expor desse jeito? Sem dó, sem retoques, sem minha melhor roupa, ou meu melhor sorriso?
Você acha que pode mostrar que sou imperfeita, gorda, intensa, insuficiente? Não pode, eu não deixo.
Verdade, você me deixa vaidosa às vezes. Mas é melhor não. Você acaba com a minha vaidade em segundos.
Eu vou arrebentar você. Assim, nunca mais vou ter que olhar pra mim. E, ainda melhor, não vou ter que mexer nisso tudo que você me mostra: imperfeições, inadequações, insuficiências.
Vou te destruir e tudo vai ficar bem. Mas ... pera lá ... será? Não sei. Agora fiquei insegura.
Já sei. Vou virar você pra parede. Até tudo isso passar, até chegar a hora.
Será que um dia eu vou me enxergar?