CHACRINHA E AS MULHERES
Por Carlos Sena



Chacrinha instituiu o Bacalhau na televisão como alguém que joga um ator desconhecido no horário nobre de TV. Debochado, irreverente, o nosso conterrâneo de Surubim fez escola, enquanto alguns outros fizeram sacola para ganhar dinheiro sem talento. Chacrinha jogava o bacalhau e ainda perguntava se o auditório queria bacalhau. Depois ele alternava com abacaxi e tudo isto fazia com que seu programa dissesse todas as verdades que nos parece mentira e nos dissesse acerca das mentiras que alguns tem como verdades. Numa das suas "tiradas" ele dizia que "as mulheres de hoje são os homens de amanhã". Profético? Pictórico? Psicodélico? Tudo isso junto, mas com muita consciência do que mandava para o ar em seu programa. Achando pouco ele ainda colocava sucessos no ar que se perpetuavam em forma de músicas como MARIA SAPATÃO que até hoje se cantam nos bailes e nas troças de carnaval de rua. Falava tudo que pensava e muitas vezes nem pensava, mas dizia. Parece mesmo que o que é de raça alastra: sua verve criativa e intelectiva tão presente A genialidade dele chegou ao ponto de eleger um bacalhau como marca do que fazia. Mas ele sabia que por tras do bacalhau estava toda uma picardia, principalmente do cheiro desse peixe que, para muitos, tem conotação libidinosa nos dois sentidos da palavra, se é que pode ser assim. Na verdade, os dois símbolos dele: abacaxi e bacalhau tem uma relação muito intensa com a sua irreverência que o transformaria num ícone até hoje imbatível na TV brasileira. Hoje diante da celeuma sem muito sentido acerca das mulheres que estão se assumindo em sua sexualidade, certamente ele ria de tudo isso. Afinal, "as mulheres de hoje são os homens de amanhã", ou o amanhã chegou como ele queria. Não que as mulheres queiram ser homens e vice-versa, mas porque todos tem dentro de si os personagens homem e mulher e que eles nem sempre se unem em prol da felicidade dos seus donos. Viva chacrinha e viva o cheiro das calcinhas que Wando tão bem deve estar divulgando no céu...
Dentro da irreverência que lhe era peculiar, penso mesmo que o Velho Guerreiro não entrou no céu. Ou entrou para o céu da boca. Num determinado episódio em seu programa, uma negra cantando bem desafinada e ele cometeu a seguinte falta de tato: descascou uma banana e a colocou na boca da negra gritando: "macaca", "macaca"... Se fosse hoje, certamente, o caldo tinha entornado pra ele. Mas, diante da sua grandeza, preferimos entender que foi o momento e, de certa maneira, preconceito... Por que não?